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Matheus Leitão

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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

A nova vergonha da igreja evangélica com Bolsonaro – agora em 2022

O brilhante escritor Rubem Alves escreveu carta renunciando ao posto de pastor presbiteriano na ditadura. Só não sabia que estaria falando à igreja em 2022

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 jul 2022, 11h58 - Publicado em 22 jul 2022, 18h30

A mistura de púlpito e palanque nunca funcionou na história da igreja cristã, seja católica ou protestante. Aliás, o protestantismo, que engloba o segmento evangélico – e que hoje é aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro -, nasceu justamente da visão de que era preciso separar o Estado da Igreja.

Nada disso impediu que os líderes evangélicos conseguissem – através de pedidos de votos desavergonhados com o microfone na mão – o apoio de 70% dos fiéis, que votaram em Bolsonaro no ano de 2018. Como sabemos, a transformação dos púlpitos em palanques foi fundamental para a chegada do atual presidente ao segundo turno do pleito.

O resto da história também já sabemos…

Pois bem.

A Igreja Presbiteriana do Brasil decidiu, como informou o Estadão nesta quinta-feira, 21, criar uma comissão interna para definir regras gerais a serem repassadas aos seus pastores sobre as eleições, agora as de 2022. Regras gerais essas que serão, indubitavelmente, contra o ex-presidente Lula e a favor de Bolsonaro, outra informação que também já sabemos.

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É tudo um jogo de cartas marcadas, mas a proposta será tratada oficialmente no Supremo Concílio da Igreja, órgão máximo de deliberação da denominação, no final de julho.

Digo jogo de cartas marcadas porque o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso pela Polícia Federal em uma operação contra a corrupção, e o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, são justamente dessa congregação.

Depois de tudo que Bolsonaro fez de forma contrária aos valores cristãos – incluindo na pior pandemia do último século -, uma das principais instituições religiosas do país vai apoiar a reeleição do mandatário.

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No início do mês, inclusive, o reverendo Osni Ferreira, de Londrina, que se fez importante no bolsonarismo, transformou o púlpito da igreja em palanque e já pediu votos para o presidente.

”Nós temos que reeleger Bolsonaro. Irmãos, não tem outro caminho para o Brasil. Olha a América do Sul inteira”, disse, contrariando regras da própria Igreja Presbiteriana do Brasil e virando um abjeto braço ideológico da extrema-direita.

É uma triste declaração. E ela se agrava porque veio logo dos presbiterianos, parte do tronco mais antigo do protestantismo e que se orgulhava de ser – digamos assim – doutrinariamente mais sólido.

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Enfim, não é. E nada mudará daqui para o final de julho.

Esta coluna já fez algumas críticas à postura das igrejas evangélicas, ao menos à maioria delas, de 2018 para cá, quando se juntaram – contrariando os outros princípios – ao bolsonarismo.

É uma vergonha sem precedentes o que aconteceu nas últimas eleições e ainda acontece até hoje. Só não é pior do que quando a maioria da protestantismo brasileiro apoiou a ditadura militar, entre 1964 e 1985, que torturou até a morte aqueles que pensavam contrariamente aos oficiais generais.

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Naquela época, o lúcido e brilhante escritor Rubem Alves escreveu uma carta-renúncia do pastorado que exercia na mesma Igreja Presbiteriana do Brasil – essa da qual o reverendo Osni Ferreira faz parte.

Nela, disse:

“Ninguém pode indefinidamente contrariar suas convicções e valores espirituais, sem que o próprio espírito sucumba. Estou convencido de que a Igreja Presbiteriana do Brasil hoje é uma grotesca ressurreição dos aspectos mais repulsivos do Catolicismo Medieval. Continuar fiel a ela, continuar a ser contado como um dos seus ministros, é compactuar com uma conspiração contra a liberdade e o amor”.

Rubem Alves só não sabia que estaria falando também dos “aspectos mais repulsivos” da mesma igreja – nada mais, nada menos que 37 anos depois do fim daquele regime que feriu com baionetas a democracia brasileira.

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