Ainda está muito fresca na mente dos brasileiros a “fuga” de Ciro Gomes (PDT) em 2018 quando, depois de ficar em terceiro lugar no primeiro turno da eleição, o político preferiu “ir para Paris” a subir num palanque com Fernando Haddad (PT) no segundo turno. Desde aquele ano, quando equivocadamente preferiu se isentar de responsabilidades, o pedetista é cobrado a se posicionar.
Neste ano, depois de disputar sua quarta eleição presidencial e de ter o seu pior desempenho, ficando em quarto lugar, Ciro escorrega mais uma vez em uma nova “fuga”, colocando nas mãos do partido a decisão sobre o apoio no segundo turno. O erro da estratégia é grave e mostra que Ciro não compreende o tamanho que tem na política brasileira diante de um quadro no qual a extrema direita avança.
O pedetista disputou eleições em 1998, 2002, 2018 e 2022. Unindo todos os números que teve nas quatro disputas, Ciro Gomes já recebeu aproximadamente 34 milhões de votos dos brasileiros. O número é expressivo e deveria motivar o político a se posicionar. Em vez disso, Ciro adotou uma postura passiva, esperando que seu partido tome uma decisão e avisou apenas que vai seguir a orientação do PDT. Bem, a orientação partidária já foi dada nesta terça, 4: Lula.
Mas cadê o Ciro?
No domingo, após o resultado, fez um rápido pronunciamento e disse que a situação é complexa e desafiadora, sem se posicionar. “Eu nunca vi uma situação tão complexa, desafiadora e tão potencialmente ameaçadora sobre a nossa sorte como nação. Peço a vocês que me deem mais algumas horas para conversar com meu partido e achar o melhor caminho.”
Completamente diferente de Ciro, Simone Tebet (MDB), que terminou a eleição em terceiro lugar, disse desde o início que não vai se omitir e pressionou seu partido a tomar uma decisão, pois a dela já estava tomada.
Nos tempos difíceis e decisivos que vivemos, nenhum político do tamanho de Ciro Gomes pode se dar ao “luxo” de ficar em cima do muro.
Como a coluna mostrou poucos dias antes do primeiro turno, as pesquisas já apontavam uma vitória de Lula sobre Bolsonaro. Nisso os institutos acertaram, embora a disputa não tenha terminado no primeiro turno. Mas, desde aquele momento, já era possível perceber a necessidade de uma movimentação daqueles que tentaram – sem sucesso – representar uma terceira via.
Agora, após o apoio irrestrito do PDT, Ciro nem citou a palavra Lula e disse lamentar “que a democracia brasileira tenha afunilado a tal ponto que reste para o brasileiro duas opções insatisfatórias”. Ou seja, um apoio mequetrefe e de araque.
O momento é crucial para o futuro da nação e parte do país estava na esperança de que o pedetista acordasse e decidisse unir forças por aquilo que acredita. Um apoio integral, com pedido de desculpas a Lula seria o ideal, mas esperar isso de Ciro era (e continuará sendo) demais.