Jair Bolsonaro conseguiu produzir uma enganação bem grande recentemente. Mais uma.
Em longa entrevista que deu, na qual outros fatos políticos eram mais importantes, o ex-presidente resolveu dizer que combate a propagação da ideia do AI-5 – ato mais violento da ditadura militar – entre seus seguidores.
Balela.
Bolsonaro sempre defendeu o ideário sanguinário do Ato Institucional Número 5 em sua carreira política, incluindo a tortura de opositores.
Para quem não sabe, o AI-5 foi a pior das ações da ditadura, cassando mandatos políticos e suspendendo quaisquer garantias constitucionais, o que mais tarde levou à institucionalização da tortura em quartéis do Exército, por exemplo.
O líder da extrema-direita sempre aplaudiu isso enquanto construía a narrativa de que valia fazer qualquer coisa contra “comunistas”.
Nos últimos anos, quando começaram a pipocar manifestações antidemocráticas nas passeatas bolsonaristas, nada foi feito. O ex-presidente nunca pegou o microfone para chamar a atenção de seus seguidores mais radicais que defendiam o AI-5.
Fosse uma preocupação verdadeira, Bolsonaro teria usado as redes sociais (isso também nunca se viu) para combater a nefasta propaganda de um ato que ainda fechou o Congresso Nacional, cassou a possibilidade do habeas corpus, censurou a imprensa e levou à troca de ministros do Supremo.
Ocorre que, na entrevista, o ex-presidente garantiu que colocou “panos quentes”.
“Botei panos quentes. Estava lá o cara [referindo-se a manifestantes] levantando a faixa a favor do AI-5. Conversa com ele, pergunta se ele sabe o que é AI-5. Não existe mais AI-5 desde a década de 1970. Eu dizia ‘para de focalizar nesses assuntos porque apenas traz coisas contra a gente’”. Ao longo do tempo, acabaram essas faixas. A gente vai educando o povo, para que as pessoas façam um protesto produtivo, e não provocativo”.
Foi Bolsonaro quem começou com as provocações sobre o regime militar. E quando viu seus seguidores brotando com placas como essa, nunca fez mea culpa ou as desincentivou.
É mentira, portanto, que ele quer um protesto produtivo, assim como é mentira que as faixas acabaram. Elas continuam por aí nas manifestações bolsonaristas. Como um pesadelo, que começou e continua justamente por causa do líder da extrema-direita.