A diferença entre o fato político (Mandetta) e o técnico (Teich) na CPI
Nesta terça começa pra valer a CPI da Covid, que ameaça o governo Bolsonaro, com o depoimento de dois ex-ministros da Saúde. Um político, o outro técnico
O Brasil vai testemunhar nesta terça-feira, 4, a diferença entre um importante fato político e um imprescindível fato técnico na CPI da Covid, que ameaça estremecer o governo Jair Bolsonaro nos próximos meses.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania), que é suplente na Comissão, e que, além da visão privilegiada, tem sido uma voz sensata no Senado, explica a diferença e a importância dos depoimentos de dois ex-ministros da Saúde na CPI da Covid, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.
Fato 1, o político.
“Basicamente a gente testemunhará hoje os governistas tentando, ou devem tentar, um ataque bem duro ao Mandetta para o descredenciar, buscando alguns contratos da gestão dele, algumas escolhas da gestão dele, e do outro lado, a maioria quer entender, pelo menos eu estou neste grupo, o máximo de comprovação da cadeia de comando nesse processo decisório das ações de combate à pandemia”, explica Alessandro Vieira.
O senador continua: “em que momento o ministro não pôde executar uma política pública baseada na ciência e quem determinou, como determinou, quem eram os interlocutores. Para mim interessa isso. Por que se investiu em cloroquina no momento que você já tinha pesquisas que apontavam a ineficácia e os riscos da saúde? Mas acredito que vai ser tumultuado no começo por conta do desespero para descredenciar o Mandetta”, explica.
Ou seja, o depoimento de Mandetta será em torno da busca da responsabilização ou não do presidente Bolsonaro.
Fato 2, o técnico.
“Já a segunda oitiva me parece que é menos tensa, sob o ponto de vista de pressão, mas tem tudo para ser bastante produtiva. Porque não tem esse passivo de questionamentos por parte do Executivo. Você não vai ter contratos. Ele não é um político, ele não é um candidato adversário, então ele deve ser menos pressionado”, aponta o senador do Cidadania.
“Contudo, ele tem informações muito importantes sob o ponto de vista do que o fez sair. Qual foi a constatação que ele teve no tocante à impossibilidade de executar uma política mais racional? Você percebe que quando ele assume começa a falar em testagem, distanciamento social e, menos de 30 dias depois, percebe que não vai a lugar nenhum e cai fora. É um bom depoimento técnico”.
Ou seja, o depoimento de Teich será menos politizado e mais objetivo em relação ao funcionamento do Ministério da Saúde.
Agora, caros leitores, a conclusão de Alessandro Vieira:
“Sem dúvida, é aquela coisa do fato político e do fato técnico, a prova que você precisa. Se a gente quer chegar ao entendimento do que aconteceu e a responsabilização – é claro que nós todos temos o entendimento do que aconteceu -, mas tem que trazer isso para o papel. Teve a reunião x, onde apresentou o cenário e o cenário foi rejeitado? Com base em que foi rejeitado. Isso leva provavelmente ao presidente Bolsonaro, sob o ponto de vista de concentrar a responsabilidade pelas decisões desastrosas na condução da pandemia”.
Bem-vindo, Brasil, à CPI da Covid.