Passando por uma forte crise de credibilidade após o primeiro turno das eleições, os diretores dos institutos de pesquisas estão vindo a público defender teses até aqui bastante questionáveis sobre seus erros. Parecem, ao menos nesse primeiro momento, sem âncora com a realidade.
O Datafolha, por exemplo, fez uma salada mal temperada hoje para tentar explicar o erro fora da margem em relação aos votos de Jair Bolsonaro. Primeiro, se escorou no Ipec – outro dos mais reconhecidos institutos – para mostrar que o antigo instituto Ibope também registrou números semelhantes em relação ao atual presidente.
Depois, a diretora do Datafolha, Luciana Chong, colocou, por exemplo, a “culpa” do erro num voto útil pró-Bolsonaro “oriundo dos eleitores que antes declaravam preferência por Simone Tebet e, principalmente, por Ciro Gomes”, segundo reportagem da Folha.
Bem, o Datafolha acertou, dentro da margem de erro, quanto a candidata emedebista e quanto o candidato pedetista teriam no primeiro turno, mesmo que as urnas tenham mostrado um número menor do que apontado nas últimas pesquisas.
Ou seja, não dá para dizer que houve erro do próprio instituto em relação a esses candidatos. O fator determinante para a migração dos votos, segundo o Datafolha, seria o medo de uma vitória de Lula no primeiro turno entre eleitores de Ciro.
Um raciocínio que não faz muito sentido.
Mesmo que a estratégia do pedetista tenha sido a de bater mais em Lula que em Bolsonaro, o eleitor cirista está mais à esquerda do espectro político.
É uma explicação insuficiente por uma questão aritmética: quando foi que o Ciro teve todo esse capital político para transferir para Bolsonaro?
Parece mais uma desculpa para explicar por que o instituto não captou o verdadeiro tamanho do bolsonarismo hoje no Brasil do que qualquer outra coisa.
Mesmo que a tese esteja correta, o que o Datafolha não explicou foi como conseguiu a proeza de, em São Paulo – conhecendo tudo sobre o estado –, ter errado de forma tão gigantesca em relação a Tarcísio de Freitas, justamente o candidato bolsonarista que se aproxima de ser o próximo governador.
No dia 1º de outubro, o Datafolha marcava que o ex-ministro da Infraestrutura tinha 31%. Ao ver a abertura das urnas no dia seguinte, o Brasil testemunhou Tarcísio com 42% dos votos, uma diferença de 11 pontos percentuais. Fernando Haddad também marcava um número de votos que extrapolou a margem de erro. Para baixo.
O instituto colocou a culpa nos indecisos.
Os erros das pesquisas para o Senado – cujo humor do eleitorado é sim mais difícil de captar – são ainda mais grotescos. O astronauta Marcos Pontes tinha 31% no Datafolha e foi eleito por São Paulo com 49%. Teve voto útil pedetista para ele também?
Esta coluna não está apontando má fé do instituto, como alardeia o tempo todo o presidente da República em sua insana forma de fazer política através do discurso violento – gerando, inclusive, riscos aos pesquisadores, o que é um absurdo em um país que se diz democrático.
Mas o resultado da eleição impõe aos institutos uma revisita à metodologia e à abordagem, assumindo de fato o erro, ou o país ficará em voo cego sobre o que está de fato acontecendo com o eleitorado neste importante segundo turno.