Qual é o obstáculo quase intransponível para a reeleição de Bolsonaro
Crise econômica não é o único entrave para a campanha do presidente no esforço para ele ganhar mais quatro anos no Palácio do Planalto
Nos últimos dias, ganhou força na campanha de Jair Bolsonaro a ideia de ter uma mulher como vice do capitão em sua campanha à reeleição. As ex-ministras Tereza Cristina e Damares Alves são os nomes cogitados no momento para compor a chapa, dentro do esforço para tentar vencer as enormes resistências de grande parte do eleitorado feminino ao nome do presidente. Não será uma tarefa fácil. Números do agregador de pesquisas do Instituto Locomotiva quantificaram o tamanho desse desafio: Bolsonaro atualmente tem 39% das intenções de voto entre homens e apenas 25% entre as mulheres.
Essa diferença não ocorre por acaso. O levantamento do Locomotiva mostra claramente como a imagem de Bolsonaro é mais negativa entre o eleitorado feminino. Nada menos do 59% das mulheres afirmam nunca confiar nas declarações do presidente (entre os homens, o índice é de 53%). Maior diferença é encontrada na percepção de como as atitudes do capitão influenciam na imagem do Brasil no exterior. Para 57% delas, a imagem do país piorou lá fora depois que Bolsonaro assumiu o comando da nação, onze pontos percentuais a mais do que o índice registrado entre os eleitores masculinos.
As críticas mais frequentes das mulheres a respeito da gestão Bolsonaro são a incapacidade no enfrentamento à crise econômica, o descaso dele diante da pandemia e sua postura no geral frente ao Palácio do Planalto, considerada por elas incompatível à de um presidente. “A atual vantagem de Lula sobre Bolsonaro é praticamente feminina. Dos mais de 19 milhões de votos de dianteira que Lula tem sobre Bolsonaro, 9 de cada 10 são votos femininos”, afirma Renato Meirelles, colunista político e presidente do Instituto Locomotiva.
O petista tem procurado consolidar essa dianteira com ajuda da socióloga paranaense Rosângela da Silva, com quem se casou no mês passado. Janja, como ela é mais conhecida, acompanha Lula aos principais eventos e atua na linha de frente da campanha, trazendo para o discurso e plano de governo do candidato bandeiras que eram laterais na agenda do candidato, como alimentação saudável e cuidados com animais.
A clara vantagem do petista sobre Bolsonaro junto ao eleitorado feminino não significa que ele não corra riscos de perder votos entre as mulheres em temas como a defesa do aborto. Segundo o agregador do Locomotiva, apenas 27% delas são favoráveis à interrupção legal da gravidez. Lula chegou a defender a legalização do aborto em uma palestra, mas acabou recuando logo em seguida, adotando o discurso de que a questão deve ser tratada como um problema de saúde pública. O tema também não foi mencionado no esboço do plano de governo divulgado recentemente pelo PT.