Familiares de Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tiu França, acreditam que a vida e o comportamento dele mudaram por causa da radicalização política nos últimos dois anos. A VEJA, Valdir Rogério Luiz afirma que o irmão, autor de um atentado com explosivos em Brasília na quarta-feira, 13, não tinha um perfil agressivo, mas dava sinais de tornar-se gradativamente mais extremista nas opiniões.
“De um ano e meio, dois anos pra cá, a política virou uma obsessão para ele”, relata Rogério. Ele conta que a notícia do ataque foi um choque para a família e o descreve como uma pessoa alegre, sociável e querida por muitos amigos. “Não reconheço aquele homem nas imagens como meu irmão”, desabafa.
Segundo Rogério, o irmão deixou a cidade natal de Rio do Sul (SC) há cerca de dois meses, afirmando que estava de mudança para Minas Gerais e que lá começaria um empreendimento como chaveiro. Na realidade, porém, França havia alugado um imóvel no Distrito Federal, onde planejou o atentado e construiu as bombas caseiras que detonou, na noite de ontem, em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), tirando a própria vida.
‘Era fanático por Bolsonaro’, diz ex-diretor do PL
Animado com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais e com a crescente onda conservadora no Brasil, Tiu França decidiu, em 2020, filiar-se ao PL para disputar o cargo de vereador em Rio do Sul. Não conseguiu se eleger, contudo, conquistando apenas 96 votos junto ao eleitorado.
Eduardo Marzall, presidente do diretório municipal do PL durante aquela eleição, descreve França como um “sujeito trabalhador e muito querido”, conhecido pela população local e dedicado a fazer render uma campanha praticamente sem caixa. Acima de tudo, o ex-dirigente partidário aponta que o colega era admirador apaixonado do então presidente da República. “Era extremamente bolsonarista, ferrenho apoiador e fanático por Bolsonaro”, conta Marzall.
Outros relatos, porém, dão conta de uma certa desilusão do chaveiro com a política após a vitória presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022. O empresário e conterrâneo Gilberto Finardi, que viajou de Rio do Sul a Brasília após as eleições para encontrar manifestantes bolsonaristas, conta que França recusou um convite para acompanhá-lo à capital federal. “Ele participou de alguns protestos no Sul mas não esteve nos atos de 8 de Janeiro, estava revoltado com o bolsonarismo”, afirma.
‘Lobo solitário’
Para familiares e amigos, é pouco provável que Tiu França tenha articulado os ataques desta semana com grupos extremistas. A tese é de que ele tenha agido como “lobo solitário”, usando a reserva de dinheiro que mantinha de empreendimentos anteriores — antes da loja de chaves, foi proprietário de uma boate e um espaço de eventos — para bancar as despesas em Brasília.
Pessoas em Rio do Sul comentam que França vinha se tornando depressivo e obsessivo com o noticiário político nos meses anteriores. No ano passado, ele divorciou-se da terceira esposa e perdeu negócios devido às fortes enchentes em Santa Catarina, algo que, comenta-se, pode ter agravado seu estado mental.
Segundo Valdir Rogério, o irmão não tinha um comportamento agressivo e, até onde sabe, não fazia acompanhamento psicológico nem tinha qualquer transtorno diagnosticado. “Ele tinha projetos ideológicos e uma revolta com o sistema, mas não era violento e nunca falou em realizar um atentado como o que ocorreu”, conta.