Plano de golpe: CPMI do 8 de janeiro ouve general e já mira almirante
Augusto Heleno depõe na terça; comissão vai avaliar convocações de ex-comandante da Marinha e ex-assessor de Bolsonaro:
O ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, entrou de vez na mira da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os distúrbios golpistas de 8 de janeiro.
A mesa diretora da CPMI já recebeu quatro pedidos de convocação de Garnier — um deles veio da relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que também solicitou a quebra dos sigilos telefônico, financeiro e telemático (mensagens via celular) do oficial.
Ele é suspeito de declarar, na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, apoio a um plano para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A acusação está em delação feita à Polícia Federal pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, que diz ter participado da suposta reunião com Garnier.
Antes dele, um outro oficial com cargo importante vai sentar na cadeira de depoente da CPMI. Já está marcada para a próxima terça-feira, 26, o depoimento do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.
Ele terá de esclarecer se houve omissão ou cooperação do GSI, órgão ao qual é subordinada a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sobre o plano de golpe que estava sendo arquitetado. Heleno, que comandou o gabinete durante os quatro anos do governo Bolsonaro, declarou em depoimento à Câmara Legislativa do Distrito Federal que não tinha conhecimento da famigerada “minuta do golpe” — documento encontrado pela PF na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que esboçava um decreto presidencial para que Bolsonaro impedisse a posse de Lula.
Outro alvo da CPMI no Congresso é Filipe G. Martins, ex-assessor especial da Presidência da República, acusado por Mauro Cid de entregar pessoalmente a minuta do golpe a Bolsonaro. Nome ligado ao falecido mentor intelectual bolsonarista, Olavo de Carvalho, Martins ganhou notoriedade em 2021 quando, durante uma audiência no Senado, realizou duas vezes um gesto com as mãos ligado a movimentos supremacistas brancos que significaria “white power” — na ocasião, ele foi denunciado por racismo pelo Ministério Público Federal (MPF), mas foi absolvido meses depois por um juiz federal do Distrito Federal (DF).
Até a tarde desta sexta-feira, 22, os pedidos de convocação de Almir Garnier Santos e Filipe G. Martins ainda não haviam sido analisados pela mesa diretora da CPMI.