Líder nas pesquisas de intenção de voto à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensifica, na largada da campanha presidencial, esforços para atrair votos na classe média, faixa que representa 41% do eleitorado, segundo projeção do Datafolha. A estratégia busca avançar alguns preciosos pontos nas pesquisas, ainda na expectativa de uma cada vez menos provável vitória em primeiro turno.
Como mostra reportagem de VEJA nesta semana, em meio a um avanço do presidente Jair Bolsonaro (PL) entre eleitores que ganham de dois a cinco salários mínimos – ultrapassou Lula em agosto e marcou 41% a 38%, segundo o Datafolha – e à vantagem que o capitão mantém entre os que recebem de cinco a dez salários mínimos (47% a 34%), a busca do ex-presidente pelos votos da classe média se baseia também em uma pesquisa interna do PT concluída há três semanas.
O levantamento mostrou que os eleitores decididos a votar em Lula e Bolsonaro somam 73% do eleitorado. Dos demais 27%, segundo a pesquisa, há 9% de indecisos que consideram votar no petista, entre os quais há forte presença da classe média, sobretudo de eleitores com renda acima de 5.000 reais mensais e religiosos, principalmente evangélicos, outro campo em que a campanha lulista tenta conter danos causados por fake news para avançar. A meta da campanha do ex-presidente é consolidar ao menos um terço desses votos ainda no primeiro turno.
Assim, Lula deve dedicar mais tempo e discurso a temas como a atualização da tabela do imposto de renda, para a qual o petista avalia ampliar a faixa de isenção àqueles que ganham até 5.000 reais, em um tópico visto como promessa descumprida do governo Bolsonaro. Também vai falar mais em meios de atenuar o endividamento das famílias e facilitar o pagamento de débitos – tema abordado por ele ao fim da entrevista ao Jornal Nacional –, além da retomada da política de ganho real do salário mínimo e da sinalização de reajustes ao funcionalismo público, à medida que a economia se recupere.
Ainda está na pauta do líder nas pesquisas diversificar a atuação do BNDES, ampliando-a a pequenos e médios empreendedores. Assim como os autônomos, a categoria compõe outro foco da ofensiva, enquanto integrante da faixa da classe média que ganha mais de cinco salários mínimos.
A lógica econômica por trás de todas essas medidas já foi vista nos governos do PT, sobretudo quando a economia crescia na casa dos 7% ao ano, e não sai da boca de Lula: o estímulo ao consumo, visto pelo petista e aliados próximos como chave de indução do crescimento econômico. “À medida que se amplia o consumo, se força o crescimento da produção, de outras atividades integradas e o país cresce, gera renda e emprego”, diz o ex-governador do Piauí Wellington Dias, um dos coordenadores da campanha de Lula.