Empenhados em conseguir a vacina russa Sputnik V em meio à escassez de imunizantes no país, os governadores do Nordeste levaram um baque com o veto por unanimidade dos diretores da Anvisa na segunda-feira, 26. Eles já esperavam dificuldades com a agência reguladora, mas não uma resposta tão incisiva detalhando uma série de pareceres técnicos que levantam dúvidas sobre a forma como foi produzida e testada a vacina.
O revés foi tão grande que os governadores precisaram repensar a estratégia. Em reunião nesta terça-feira, 27, eles decidiram que o melhor agora é esperar a representante e a fábrica russa enviarem as respostas para as contestações da Anvisa antes de tomar qualquer ação mais incisiva no Supremo Tribunal Federal, como vinha sendo tomada antes.
“É uma vacina já aplicada em milhões de pessoas em 62 países do mundo. Nós esperamos que eles possam agora tecnicamente e cientificamente responder aos pontos que foram apresentados no relatório da Anvisa, que diz exatamente o contrário (do que nos foi apresentado)”, disse o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), coordenador do fórum de governadores na questão das vacinas.
Boa parte dos especialistas da área da Saúde que eram entusiastas de trazer mais uma vacina russa apoiou a decisão técnica da Anvisa proferida ontem. O laboratório russo Gamaleya, responsável pelo imunizante, rebateu em sua página no Twitter dizendo que o veto se devia a pressões políticas vindas dos Estados Unidos.
Os governadores do Consórcio Nordeste haviam fechado um contrato de compra de 37 milhões de doses da Sputnik V. Deste montante, 2 milhões estavam previstas para o mês de abril. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se comprometeu a assumir a compra se ela fosse aprovada na Anvisa, o que não aconteceu ainda.
A decisão unânime da Anvisa foi embasada em uma série de pareceres técnicos que levantaram dúvidas sobre falhas em etapas de produção e estudo que comprometem a análise da segurança e eficácia do fármaco. A eventual autorização nas atuais circustâncias, ressaltaram os especialistas, colocaria em risco a saúde de pelo menos 14,8 milhões de brasileiros. O aval negado vale somente para o atual pedido.