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A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Não é só dancinha: TikTok vira palco de fake news e ataques à democracia

Em pouco mais de um mês, rede social teve quase 7 milhões de acessos a conteúdos ofensivos ao processo eleitoral, ao STF e a seus magistrados

Por Diogo Magri Atualizado em 31 ago 2022, 10h45 - Publicado em 30 ago 2022, 14h27

Não é de hoje que o marketing digital, voltado para o engajamento de apoiadores nas redes sociais, está no centro da estratégia política. Em 2018, com pouquíssimo tempo de TV, Jair Bolsonaro tornou a internet protagonista em sua campanha, utilizando o disparo de mensagens – muitas falsas — em aplicativos e mídias sociais como um dos pilares de sua vitória. A estratégia deu tão certo que, apesar de contar com uma campanha mais tradicional, o presidente continua utilizando o Facebook para lives semanais e o Twitter para pronunciamentos oficiais. Do outro lado, candidatos como Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT) correm atrás do tempo perdido para tentar repetir o que o bolsonarismo fez tão bem.

No entanto, o contexto digital da disputa política não é o mesmo de quatro anos atrás. A principal diferença está no crescimento do TikTok, plataforma de vídeos curtos que explodiu nos últimos anos, chegando a ser a quarta rede social mais utilizada do Brasil (a terceira em horas consumidas). Assim como as outras, a rede social chinesa foi contaminada pelo debate político a menos de dois meses da eleição. O problema é que, com o algoritmo voltado para a viralização de conteúdos, o TikTok passou de aplicativo conhecido pelas dancinhas postadas pelos usuários para um possível potencializador de notícias falsas e ataques à integridade democrática e ao processo eleitoral.

Um levantamento feito pelos pesquisadores Luiza Mello, da UFF, e Djiovanni Marioto, da UFPR, traz dados assustadores sobre o volume de conteúdos golpistas durante as últimas semanas. Do dia 4 de julho a 15 de agosto, os relatórios semanais apontam uma constância de ao menos 50 publicações por semana que desconfiam das urnas eletrônicas e atacam instituições como Supremo Tribunal Federal. São vídeos curtos que, somados (o levantamento separa menções aos ministros de ataques à democracia), mantêm um mínimo de 500 mil visualizações e 40 mil curtidas na média semanal, mas em alguns casos passam dos 2 milhões de views e dos 100 mil likes.

Na soma bruta, em mais de um mês, vídeos com críticas ao STF e seus ministros alcançaram mais de 5 milhões de acessos. Conteúdos com ataques ao processo eleitoral somaram 1,7 milhão no mesmo período. As hashtags que mais bombam dão o teor do conteúdo: #stfvergonhanacional, #votoimpresso e #forastf — a primeira, em 144 vídeos postados, somou 3,2 milhões de views. “Não há dúvidas que o TikTok deixou de ser só entretenimento para virar uma plataforma política e de divulgação ideológica. Consequentemente, ganhou um papel importante na veiculação de desinformação”, afirma Luiza Mello.

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As características da rede social favorecem a divulgação desses conteúdos. Ao contrário de outras plataformas, o TikTok não tem a função de conectar pessoas, mas de corresponder aos interesses do usuário. O algoritmo mais intenso, o descompromisso com a cronologia e a facilidade para compartilhar em outros aplicativos dão à plataforma uma característica de viralização maior do que outras redes. Se o usuário curte vídeos de culinária, a tendência é que seu feed seja preenchido cada vez mais pelo mesmo assunto, independentemente de ser um vídeo recente ou não – o mesmo acontece se o usuário gosta de um post que pede a dissolução do Supremo. O incentivo ao compartilhamento, quando não há moderação, é o que resume os riscos antidemocráticos da plataforma.

Tanto que, recentemente, quem atuou na moderação foi o ministro do STF Alexandre de Moraes, que em junho pediu o bloqueio de uma conta do PCO (Partido da Causa Operária) no app por atacar o Supremo. O TikTok acatou a ordem, mas os advogados da empresa disseram que a decisão de Moraes “fere gravemente as garantias constitucionais de liberdade de expressão”, postura que chama a atenção para o risco que o aplicativo pode oferecer porque essa tem sido a mesma argumentação usada por influenciadores e perfis de direita e extrema direita para justificar os seus ataques às instituições.

Em sua defesa, a empresa chinesa diz, através da assessoria, que está comprometida em oferecer um ambiente seguro durante as eleições, que “o TikTok não é o principal destino para o debate político e acredita que a natureza de anúncios políticos não combina com a experiência da plataforma”. A empresa ainda cita um acordo firmado com o TSE em 2022 para trazer informações confiáveis sobre o processo eleitoral aos seus usuários. Ainda assim, o TikTok não revela quantas contas ou conteúdos foram banidos no Brasil por divulgar fake news ou atacar instituições.

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Os pesquisadores dizem que, nas últimas semanas, começaram a perceber que um em cada dez posts mais compartilhados com ataques à democracia foi excluído pela plataforma, o que mostra uma proatividade da empresa. Eles ressaltam, ainda, que nem sempre o conteúdo do vídeo corresponde às tags utilizadas. É possível que a #votoimpresso, por exemplo, esteja num post que defende as urnas eletrônicas.

Público jovem

É fato que o público majoritariamente jovem do TikTok desfavorece o discurso golpista que por vezes é alimentado por Bolsonaro (segundo o último Datafolha, o presidente perde para Lula por 52% a 24% entre eleitores de 16 a 24 anos), algo provado com a boa largada de Lula no aplicativo – o petista criou seu perfil em 20 de junho e, na sua primeira semana, ultrapassou Bolsonaro em compartilhamentos e curtidas. No entanto, o presidente ainda tem quase quatro vez mais seguidores que o adversário no TikTok, e seus apoiadores mais radicais são quem mais fazem barulho. “Percebemos uma extrema-direita mais articulada e com influenciadores maiores. A esquerda (ou a oposição em geral) não consegue fazer frente a eles”, afirma Mello. “Enviamos sugestões ao TSE que incluem a criação de uma agência de checagem que consiga identificar fake news e repreendê-las rapidamente, até responsabilizando os candidatos. É um desafio porque o outro lado é mais organizado nesse sentido”, confessa Marco Aurélio de Carvalho, líder do grupo Prerrogativas, formado por advogados ligados a Lula.

Independente do lado ou do objetivo da plataforma, fica claro que o TikTok entrou para o pool de redes sociais que influenciam o jogo político e a opinião dos eleitores. A tendência, com a proximidade das eleições, é que o aumento da exposição de candidatos e instituições coloque-os cada vez mais na mira de ataques e notícias falsas.

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