Ministro da Educação diz que já havia pedido investigação de pastores
Milton Ribeiro afirma que maneira com que se referiu aos religiosos em áudio vazado foi 'apenas uma questão de cordialidade'
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, suspeito de direcionar verbas públicas para prefeitos indicados por dois pastores evangélicos supostamente a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL), como indica um áudio divulgado na segunda-feira, 21, afirmou em sua defesa que já havia solicitado investigação sobre os religiosos à CGU (Controladoria-Geral da União) em agosto de 2021, após ter recebido uma denúncia anônima. “Em agosto do ano passado, diante desse quadro, eu imediatamente procurei a CGU e, de maneira oficial, eu protocolei as denúncias que chegaram a mim”, disse o ministro em entrevista à TV Record na noite desta quarta, 23.
Mais cedo, a Procuradoria-Geral da República pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de um inquérito contra Ribeiro para apurar os possíveis crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência — o que aumentou a pressão para a demissão do ministro. O áudio em que ele, que também é pastor presbiteriano, fala que sua prioridade é atender aos municípios que mais precisam e aos pedidos dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que frequentavam o ministério e reuniões oficiais mesmo sem ter cargo no governo, foi revelado pela Folha de S.Paulo.
Questionado se o áudio não deixa claro que houve autorização para que os dois pastores oferecessem às prefeituras recursos da educação, Ribeiro respondeu que não. “O que o áudio vaza é que primeiro eu coloco a prioridade de atender as cidades que mais precisam e, em segundo lugar, como é comum e talvez com muitos parlamentares eu já tenha feito isso, por uma questão apenas de cordialidade, quando alguém me encaminha o prefeito, eu falo ‘Esse é o mais importante, ele manda aqui no MEC’, coisas assim, que eu não fiz apenas com eles”, declarou o ministro.
Ribeiro também negou que Bolsonaro tenha pedido para que o ministério atendesse os dois pastores com direcionamento de verbas. “O presidente Bolsonaro fez o que qualquer autoridade faz: ele encaminhou ao MEC para que eu pudesse receber esses dois pastores, isso é verdade”, disse. Ainda segundo o ministro, mesmo após ter pedido apuração à CGU, ele se encontrou com os pastores uma vez, porque eles não sabiam que seriam investigados.
O que diz a CGU
A Controladoria-Geral da União informou que recebeu duas denúncias feitas pelo MEC em 27 de agosto de 2021: “uma anônima que tratava de possíveis irregularidades que estariam ocorrendo em eventos realizados pelo MEC e outra sobre oferecimento de vantagem indevida, por parte de terceiros, para liberação de verbas no âmbito do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)”.
Segundo o órgão, em 15 de setembro foi formada uma comissão de três servidores para apurar os fatos, por determinação do ministro Wagner Rosário. Ainda de acordo com a CGU, a comissão, que funcionou até o início deste mês, “não constatou irregularidades cometidas por agentes públicos, mas sim possíveis irregularidades cometidas por terceiros, e sugeriu o encaminhamento dos autos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, ante a possibilidade de ocorrência de crime por ocasião da oferta de vantagem indevida”.
Nesta quarta-feira, 23, o órgão decidiu abrir um novo procedimento para investigar os novos fatos revelados pela imprensa, “em especial, o pedido de vantagem por terceiros”, informou.