As investigações da Operação Dardanários, que prendeu o secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Alexandre Baldy, jogam suspeitas sobre o patrimônio e movimentações financeiras dele. Baldy é filiado ao PP e, antes de entrar no governo de João Doria (PSDB), foi secretário estadual em Goiás, deputado federal pelo estado e ministro das Cidades no governo do presidente Michel Temer (MDB).
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) analisados pelo Ministério Público Federal mostraram, na visão do juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela ordem de prisão temporária, “fortes indícios” de que Baldy usou sua mulher e o sogro para “dissimular capital de origem ilícita, na medida em que esses familiares movimentaram altas quantias em dinheiro, nos anos de 2012 a 2017, sem motivação aparente”.
Outro relatório no âmbito das investigações aponta, para Bretas, “inúmeras inconsistências” nas contas do secretário. Os exemplos dados são a compra de 1,1 milhão de reais em moeda estrangeira em julho e outubro de 2017, pouco antes de Baldy ser nomeado ministro; a aquisição, em 2015, de uma aeronave Breech Aircraft feita por ele e sua mulher, Luana, “por meio de operações suspeitas de empréstimo”; e a compra de uma mansão em Brasília pelo valor de 7,6 milhões de reais, cuja integralidade do pagamento não está nas declarações de imposto de renda de Baldy nem de Luana, segundo as apurações.
A decisão do magistrado aponta que, apesar da “aquisição de bens de alto valor”, a declaração de bens de Alexandre Baldy à Justiça Eleitoral em 2014, quando foi eleito deputado federal, era de 4,2 milhões de reais. Entre os bens estava uma BMW ano 2010, avaliada em 350.000 reais, 920.000 reais em “empréstimos cedidos” e um apartamento de 1,3 milhão de reais no luxuoso Edifício Excalibur, em Goiânia. Ao cumprir mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira em endereços ligados a Baldy, a Polícia Federal encontrou 90.000 reais em dinheiro vivo no endereço dele em Brasília e mais 110.000 reais em espécie na casa dele na capital goiana.
O secretário paulista é suspeito de receber propina da organização social Pró-Saúde, em troca da liberação de pagamentos pela administração de um hospital na capital goiana, e em contratos de uma empresa chamada Vertude com a Junta Comercial de Goiás (JUCEG) e a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).
Segundo delatores da Pró-Saúde e da Vertude, cujos depoimentos baseiam boa parte da apuração, Baldy mantinha influência na JUCEG por meio da indicação do presidente do órgão, Rafael Lousa, e, na FioCruz, através da indicação de Rodrigo Dias à presidência da Fundação Nacional da Saúde (Funasa).
“Aliás, parece mesmo que o investigado ALEXANDRE BALDY adotou a prática habitual de cometimento de vários lícitos penais ao longo dos seguidos cargos públicos que ocupou. É ver que o MPF relata a ocorrência das condutas delituosas de 2014 a 2018, sendo que nesse mesmo período, BALDY foi Secretário do Governo de Goiás, Deputado Federal, Ministro das Cidades, e atualmente é Secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo”, anota Marcelo Bretas em sua decisão.
Por não considerar os fatos contemporâneos, no entanto, o magistrado não acatou o pedido de prisão preventiva contra Baldy e deferiu a detenção temporária, de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa do secretário de Transportes Metropolitanos afirma que ele “tem sua vida pautada pelo trabalho, correção e retidão” e classifica como “desnecessário e exagerado determinar uma prisão por supostos fatos de 2013, ocorridos em Goiás, dos quais Alexandre sequer participou”.
“Alexandre sempre esteve à disposição para esclarecer qualquer questão, jamais havendo sido questionado ou interrogado, com todos os seus bens declarados, inclusive os que são mencionados nesta situação. A medida é descabida e as providências para a sua revogação serão tomadas”, diz o comunicado.