Investimento recorde e PIB: os trunfos de Doria contra Bolsonaro em 2022
São Paulo dobra verba de investimentos, enquanto União tem menor volume da história; tucano vai usar dados para mostrar que é melhor gestor que o presidente
Enquanto prepara-se para deixar o Palácio dos Bandeirantes nas mãos de seu vice, Rodrigo Garcia, para se lançar na corrida presidencial deste ano, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), comemora números econômicos que, espera-se, podem ajudar sua estratégia política de se apresentar ao eleitor do país como gestor competente que pode entregar resultados melhores do que os do rival Jair Bolsonaro (PL).
Doria recebeu nesta segunda-feira, 3, relatório com o total de recursos destinados a investimentos públicos no ano de 2021 que mostra um recorde: um aumento de quase 90% no orçamento destinado a obras e aquisição de equipamentos permanentes, em relação a 2020, alcançando a marca de 23,3 bilhões de reais.
Os investimentos são os gastos públicos que mais geram empregos e que têm influência na composição do Produto Interno Bruto (PIB), daí a importância para os gestores públicos olharem para esses números. A meta em 2021 era que o governo pudesse liberar até 22,5 bilhões de reais em investimentos. Além de superar a meta, São Paulo espera chegar no fim de 2022 com o maior volume de investimentos da história, 27,3 bilhões de reais.
A equipe de Doria pretende explorar eleitoralmente os números em uma contraposição ao volume de investimentos do governo federal para 2022. O orçamento aprovado pelo Congresso para este tipo de gasto é de 96 bilhões, mas o volume maior das despesas está sob responsabilidade das estatais públicas, como Petrobrás e Eletrobrás. Entre os investimentos diretos do governo, o país terá neste ano verba de cerca de 44 bilhões de reais, o menor volume da história (o recorde, 200 bilhões de reais, é de 2012). Em relação ao ano de 2021, a redução é de cerca de 10%. E, deste total, quase 9 bilhões de reais vão para as Forças Armadas, não para obras ou bens de uso da população em geral.
No caso de São Paulo, além de obras em estradas vicinais e rodovias municipais feitas com o dinheiro do estado, os investimentos prioritários ocorrem no transporte público (são quatro linhas do Metrô em obras neste momento), em meio ambiente (com a despoluição do rio Pinheiros, na capital) e ligadas à saúde e educação. Um dos projetos que ainda está parado, o trecho norte do Rodoanel, paralisado na gestão de Geraldo Alckmin (sem partido) após uma série de investigações sobre corrupção, que ainda causam constrangimentos dentro do PSDB, deve ter o edital de retomada publicado até o mês que vem e também deve voltar a ser executado.
Dentro do governo, a ordem do vice-governador Rodrigo Garcia, que vai concorrer ao governo do estado neste ano, é antecipar todos os empenhos (pedido de reserva e liberação de gastos) que forem possíveis e acelerar entregas de obras, sem a necessidade de respeitar a cota de 1/12 do orçamento de cada secretaria (o praxe no governo em outros anos é planejar liberação dessas verbas de forma mais ou menos igualitária ao longo dos meses do ano).
A “folga” que permite essa aceleração é resultado da reforma administrativa que Doria conseguiu passar na Assembleia Legislativa ainda em 2019 e de uma reforma tributária aprovada em 2020 — que chegou a ter recuos após pressões de uma série de setores econômicos. Também pesa a favor dos paulistas um aumento da arrecadação geral ao longo do ano, situação verificada também em outros estados do país em decorrência de fatores como a inflação, que fez tarifas de energia e preços de combustíveis decolarem ao longo do ano, aumentando a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Por fim, a atividade econômica de São Paulo havia tomado um tombo menor do que a do país como um todo durante a pandemia. Enquanto o PIB do Brasil caiu 4,1% em 2020, o do estado registrado estabilidade, com uma pequena oscilação positiva de 0,3%. Em 2021, o crescimento foi de 6,2%, enquanto os números do país mostram aumento geral de 4,3% (em relação ao fraco desempenho do ano anterior).