Bicampeão mundial de Fórmula 1 nos anos 70 (foi o primeiro brasileiro a chegar ao topo da categoria), Emerson Fittipaldi decidiu, aos 75 anos, se candidatar ao Senado da Itália neste ano. Filho de mãe russa e pai ítalo-brasileiro, o ex-piloto anunciou na última segunda-feira, 15, que concorrerá nas eleições parlamentares de setembro pelo partido Fratelli d’Italia, o mesmo da líder nacionalista Giorgia Meloni, apontada como favorita ao cargo de primeira-ministra italiana.
A escolha do partido causou surpresa. Isso porque a legenda batizada de “Irmãos da Itália”, em tradução para o português, é criticada por seguir ideais de extrema-direita. A própria Meloni já se mostrou antissemita, homofóbica e ganhou espaço nas redes sociais ao culpar os imigrantes pelos males da Itália, posicionamentos que a aproximam de Benito Mussollini, ditador morto na Segunda Guerra Mundial e fundador do fascismo.
Por telefone, diretamente da Itália, onde está morando atualmente, Fittipaldi defendeu o partido e sua líder em entrevista exclusiva a VEJA. “Não é de extrema-direita, é de centro-direita. E a Giorgia Meloni é uma pessoa muito respeitada, com muito conteúdo”, afirmou. O ex-piloto também contou os motivos que o levaram a concorrer no país, deu palpites sobre as eleições brasileiras e revelou o desejo de ajudar o presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem é um apoiador antigo, como seu representante na Europa.
Por que concorrer ao Senado na Itália? Sabe que isso foi uma surpresa até para mim. Eu tenho passaporte italiano desde 1991, mas não sabia que era possível se candidatar lá. Quem me chamou foi o Luis Roberto Lorenzato, ítalo-brasileiro que é deputado federal na Itália (e quem irei apoiar em setembro). A Georgia Meloni também me ligou, é uma pessoa de muito conteúdo e muito respeitada. Ela que me convenceu.
Não teve a oportunidade de concorrer no Brasil? Tive convites, mas não quis entrar na política brasileira porque eu viajo muito. São Paulo é a minha casa, mas meu filho disputa campeonatos de automobilismo na Itália, eu viajo para quase todos os Grande Prêmios de F1. No momento estou mais baseado na Europa.
Quais as suas propostas como senador? Minha bandeira é o esporte. Quero incentivar o esporte desde a juventude, pela saúde mental e física, tanto para italianos quanto para imigrantes brasileiros. Quero criar uma ponte cultural entre os dois países, aumentar a união com a Itália porque faz parte da origem de muitos brasileiros.
O partido que você escolheu, Fratelli d’Italia, é muito criticado por seguir alguns ideais fascistas na Itália. Isso é uma mentira. O Fratelli d’Italia é muito importante por ser totalmente cristão e seguir os valores de Deus e da família. Isso para mim é sagrado. Não é uma coalizão de extrema-direita, é de centro-direita. O fascismo e o nazismo foram enterrados na Segunda Guerra Mundial, e quem quer botar essa fama errada hoje em dia são os partidos de esquerda. O meu partido é totalmente democrático. Além disso, defendo o respeito à liberdade de expressão. Não gosto do comunismo, mas respeito quem é comunista.
E você tem acompanhado a discussão política no Brasil, a menos de dois meses da eleição? Só de longe. Eu sou de direita porque minha mãe teve que fugir da URSS perseguida pelo regime comunista. Então torço para o Bolsonaro e espero que ele consiga levantar a economia brasileira. Sei que ele está numa batalha muito grande, mas é uma pessoa que trabalha para o Brasil e espero que continue seu caminho.
O Bolsonaro teve alguma influência na sua decisão? Um dos meus objetivos é mudar a imagem de fascista que o Bolsonaro tem na Europa. Preciso contar para as pessoas que o Brasil é um país livre, que ele nunca acabou com a democracia. Foi criada uma imagem errada dele aqui.
Em abril deste ano, você tinha uma dívida estimada em mais de R$ 50 milhões, com ao menos 145 processos judiciais de cobranças de débitos. Como a situação chegou a esse ponto? Trabalhei muito para resolver, e hoje cerca de 92% do valor já foi concordado e acertado. Posso dizer que estou mais tranquilo e feliz por chegar a essas soluções no momento em que estou me candidatando.
Você falou que tem viajado para os GPs da F1. Quando o Brasil voltará a ter representantes na principal categoria de automobilismo do mundo? Apesar do campeonato mundial estar espetacular neste ano, nós da América Latina estamos muito fracos frente ao acúmulo de pilotos europeus. Felipe Drugovitch (piloto da F2), Pietro Fittipaldi (neto de Emerson e piloto de testes da equipe Haas) e Enzo Fittipaldi (irmão de Pietro, também corre na F2) são promissores. É difícil, mas espero uma turma grande de novos talentos. É preciso o apoio de empresas desde o início, no kart, e temos bons empresários olhando para a molecada. Acho que em breve voltaremos a ter um representante brasileiro.