Escândalo Prevent Senior: empresa é inocentada em inquérito policial
Investigação da Polícia Civil de SP conclui que não houve ilícito penal no tratamento de pacientes de Covid-19 pela operadora de saúde e seus funcionários
Após investigação pedida pelo Ministério Público Estadual, a Polícia Civil de São Paulo concluiu que a operadora de saúde Prevent Senior e seus médicos e funcionários não cometeram nenhuma irregularidade no tratamento de pacientes com Covid-19.
Entre as acusações investigadas estavam as de que havia a prescrição de hidroxicloroquina (medicamento que, hoje se sabe, não tem eficácia contra a doença) para pacientes atendidos com ou sem sintomas, que ocorria retaliação da Prevent Senior a quem não prescrevia as medicações impostas pela direção (o chamado “kit Covid”) e que as regras de prevenção eram flexibilizadas no estabelecimento, como o uso de máscaras pelos profissionais. Originado de um dossiê elaborado a partir de denúncias reunidas por uma advogada, o caso foi parar na CPI da Pandemia.
No relatório final da investigação policial, a delegada Lisandrea Zonzini Colabuono afirma que “não foram encontrados elementos informativos caracterizadores de ilícito penal praticados pelos funcionários da operadora de saúde, nem por médicos e ex-funcionários desta”.
A investigação levou em conta os depoimentos de ao menos quinze pessoas, entre elas membros da direção da Prevent Senior, funcionários, médicos (inclusive dois denunciantes) e parentes de pacientes. Também foram feitos cinco laudos periciais de mortes ocorridas na rede hospitalar. “Todos os laudos periciais realizados através da análise dos prontuários médicos das vítimas descrevem que a causa mortis seria Covid-19, mas não é possível relacionar este resultado ao tratamento aplicado, não havendo, portanto, qualquer nexo de causalidade”, diz a delegada.
A delegada lembrou ainda que os fatos apurados ocorreram em 2020, no início da pandemia, quando não estavam definidos claramente os protocolos de tratamento da Covid-19. “Trata-se de um período em que quase diariamente eram publicadas recomendações por parte das autoridades médicas, afetando principalmente os médicos que atuavam no front”.
De acordo com o relatório policial, a Prevent Senior seguiu os protocolos iniciais de tratamento expedidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, posteriormente, pelo Ministério da Saúde e Conselho Federal de Medicina. “Criminalizar as condutas médicas neste caso seria condenar inúmeros médicos e servidores da saúde que atuaram e perderam suas vidas no embate contra esse novo vírus até então desconhecido”, diz.
Procurada por VEJA para comentar o resultado do inquérito, a Prevent Senior respondeu por meio de seu advogado, Aristides Zacarelli Neto. “É o primeiro resultado de uma investigação técnica que mostra que a Prevent Senior foi alvo de uma injustiça semelhante à sofrida pela Escola Base há quase trinta anos”, disse.
A Prevent Senior já moveu uma ação na Justiça contra a advogada Bruna Mendes Morato, que prestou depoimento à CPI da Pandemia na condição de representantes de ex-médicos autores de dossiê contra a operadora. O grupo empresarial também deve mover novos processos contra veículos de imprensa.