Depois de estimular o lançamento da candidatura do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que vai colocar seu “bloco na rua” nos próximos meses com vistas à eleição de 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também pretende viajar pelo país em breve. Aliados de Lula afirmam que ele só aguarda ser vacinado para iniciar as articulações por andanças próprias, em um movimento complementar ao de Haddad, segundo colocado na eleição presidencial de 2018.
“Quando tiver a vacina, o Lula também vai andar o Brasil. A situação de saúde dele é mais complexa. Haddad tem condições, com a prudência que a pandemia exige, de rodar o país. A militância ficou entusiasmada com esse movimento de colocar o bloco na rua. Lula pode percorrer um lado do país, Haddad percorrer outro, e eles se encontrarem em momentos especiais. Lula ficou preso 580 dias e depois veio a pandemia, ele não andou o país. Nós vamos ter uma força política muito grande”, diz o ex-ministro Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, braço de formação política do PT, que acompanhará de perto a caravana do ex-prefeito.
Aos 75 anos, Lula informou no fim de janeiro ter sido diagnosticado com Covid-19 durante sua passagem por Cuba, em dezembro, onde participou das gravações de um documentário. Ele disse ter feito quarentena no país caribenho. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou a convidá-lo para se vacinar ao lado de outros ex-presidentes, mas Lula rejeitou a oferta. O petista foi internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, no último sábado, 6, com um quadro de bacteremia (bactérias no sangue) e teve alta na manhã da terça-feira, 9.
Reportagem de VEJA desta semana mostra detalhes de como serão organizadas as viagens de Haddad e as reservas com que lideranças de esquerda viram o lançamento do ex-prefeito, sem diálogos ou articulações prévias no campo ideológico.
Fernando Haddad, que tem dito abertamente que seu candidato para 2022 é Lula, colocará seu bloco na rua no momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para analisar o pedido da defesa do ex-presidente pela suspeição do ex-juiz Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá. Embora o ambiente na Segunda Turma do STF, que julgará o caso, indique um cenário favorável a Lula, o ex-presidente tem outra condenação em segunda instância, no processo sobre o sítio de Atibaia, razão pela qual está cético quanto a reaver seus direitos políticos a tempo do pleito do ano que vem. O cenário de incertezas levou o petista a estimular o presidenciável de 2018 – ano em que Haddad foi lançado inicialmente como vice de Lula, assumiu a cabeça de chapa quando o padrinho foi cassado e recebeu 47 milhões de votos no segundo turno contra Jair Bolsonaro.
“O que o Lula quer é que Haddad, que teve 47 milhões de votos, continue se projetando como uma liderança e figura pública. Não é porque teve 47 milhões de votos que pode desaparecer. O que não pode acontecer, com pandemia e as condenações do Lula, é ficar esperando eternamente”, diz um amigo do ex-presidente.