Uma das marcas das eleições municipais deste ano será a proporção recorde de mulheres na disputa pelas prefeituras brasileiras. O percentual, porém, está muito aquém do ideal para uma democracia moderna cuja população é predominantemente feminina (51,5%, segundo o Censo 2022). No próximo 6 de outubro, o país terá 2.334 nomes de candidatas nas urnas, o equivalente a 15% de todas as candidaturas ao cargo — a parcela é a maior nos últimos 24 anos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A baixa representatividade feminina nos espaços eleitorais vem de longa data no Brasil. Nas eleições de 2000, entre as mais de 15.000 chapas que concorreram às prefeituras, apenas 1.150 eram encabeçadas por mulheres, número que dobrou desde então. Nas capitais, o cenário é ainda mais desigual: nas quatro décadas que sucedem o pleito de 1985, quando a petista Maria Luiza Fontenele foi pioneira ao vencer nas urnas de Fortaleza, somente outras doze candidatas foram eleitas para chefiar o Executivo municipal.
Uma capital brasileira, porém, desafia as estatísticas: neste ano, a cidade de Aracaju tem cinco mulheres entre oito candidatos à prefeitura, sendo três delas na liderança da corrida eleitoral. Como mostra reportagem de VEJA, pautas ligadas à segurança e ao atendimento especializado às mulheres e fatores regionais contribuem para que a capital do Sergipe se destaque como exceção à regra em 2024.
Congresso está entre os mais dominados por homens no mundo
O quadro de representação feminina no Congresso Nacional tampouco é animador. Dos 513 parlamentares eleitos para a Câmara dos Deputados em 2022, apenas 91 são mulheres, o equivalente a 17,5% do total — a parcela vexatória posiciona o Brasil na 133ª posição global do ranking elaborado pela Inter-Parliamentary Union (IPU). O país fica atrás de nações como Arábia Saudita, Turquia e Azerbaijão.
Ainda assim, os esforços para enfrentar a desigualdade existem e têm gerado resultados nos últimos anos. Especialistas veem avanços na fiscalização mais rígida pela Justiça Eleitoral das cotas de gênero, previstas em lei há trinta anos, mas que apenas recentemente geraram as primeiras cassações pelo seu descumprimento. “As cassações e a vinculação do fundo eleitoral às cotas incentivam o cumprimento da lei, mas é preciso pressão pública sobre as legendas para incentivar a formação de lideranças femininas”, avalia Ana Claudia Santano, diretora-executiva da Transparência Eleitoral Brasil.