As ‘sete vidas’ de Pablo Marçal na campanha à Prefeitura de São Paulo
De polêmica em polêmica, o outsider mostra resiliência e apresenta chances reais de chegar com musculatura no segundo turno
Tal qual um felino, o empresário Pablo Marçal (PRTB) tem colocado à prova a teoria das sete vidas. Fustigado por todos os lados — até mesmo com tiros disparados por ele mesmo no próprio pé –, o polêmico outsider mostra resiliência na corrida eleitoral e chega à última semana com chances reais de ir ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo, a maior do país.
Dado como “morto” por diversas vezes, Marçal segue vivo — e muito –, em um triplo empate técnico com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado Guilherme Boulos (PSOL), seus principais adversários, nas principais pesquisas eleitorais feitas na cidade na reta final.
Não foram poucas as investidas contra o empresário e ex-coach — qualificação rechaçada por ele, inclusive. No final de agosto, veio o golpe que prometia ser um dos mais duros até então. Atendendo a uma ação do PSB da adversária Tabata Amaral, a Justiça Eleitoral de São Paulo determinou a suspensão de todos os perfis oficiais de Marçal até o final da eleição — o que incluiu Instagram, TikTok, X (antigo Twitter), quando a plataforma ainda estava liberada no Brasil, e YouTube.
O motivo foi a monetização de cortes do empresário para as redes, o que, aos olhos da lei, é uma forma de burlar o equilíbrio na disputa eleitoral, que segue regras e prazos para a publicização de conteúdos de campanha.
No mesmo dia da determinação do bloqueio, a equipe de Marçal começou a criar as chamadas “contas reservas”, ou seja, novos perfis que, não abarcados pela decisão judicial, poderiam continuar levando a mensagem do empresário a seu público. De lá para cá, em pouco mais de um mês, apenas a nova conta no Instagram de Marçal conta com 5,5 milhões de seguidores.
Na mesma época, Marçal se viu encurralado pela revelação de suspeitas de ligação do presidente do PRTB, Leonardo Avalanche, com a facção criminosa PCC. Áudios divulgados pelo jornal Folha de S.Paulo mostraram que Avalanche dizia ter ligação com o grupo, além de ter sido responsável pela soltura de André do Rap, um dos chefes da facção. Marçal chamou a revelação de “constrangedora” e defendeu o afastamento de Avalanche, mas afirmou não poder “fazer nada” por não ser dono do partido. A ligação do PRTB com o PCC é usada até hoje como artilharia pelos adversários em debates e em entrevistas.
Os debates, aliás, foram o grande palco de projeção para Marçal neste primeiro turno. O empresário fez sua marca ao adotar uma postura explosiva, beligerante e até descompensada em relação aos rivais, disparando xingamentos, ofensas e acusações — muitas vezes sem prova — a torto e a direito. Provando que toda ação tem sua reação, a escalada culminou no famigerado episódio da cadeirada desferida por José Luiz Datena (PSDB). A tentativa de se vitimizar e de colar no adversário a pecha de desequilibrado não deu certo: parte do eleitorado paulistano mostrou que preza pelos valores de masculinidade e virilidade defendidos pelo empresário e, na semana seguinte, deu a Datena um tímido crescimento nas pesquisas, enquanto Marçal teve leve recuo.
Pouco mais de uma semana depois, o clima de ringue de luta voltou a dar as caras. Ao fim do debate promovido pelo Flow News, Nahuel Medina, fotógrafo de Marçal, deu um soco no marqueteiro de Ricardo Nunes, Duda Lima. Medina disse que foi “provocado”, o marqueteiro, ensanguentado, prestou queixa na polícia e a investigação promete novos capítulos.
As trocas de golpes com adversários — no sentido literal e figurado — não foram poucas. Marçal comprou briga com Jair Bolsonaro, de quem pode-se dizer que coopta boa parte do eleitorado. Bolsonaro, como se sabe, apoia Ricardo Nunes, em uma aliança fechada por caciques da velha política, entre eles Valdemar Costa Neto (PL), Baleia Rossi (MDB), Ciro Nogueira (PP) e Gilberto Kassab (PSD). O ex-presidente orientou seu público a votar em Nunes, parte considerável do contingente bolsonarista bateu o pé, disse que não seguiria o capitão nesse quesito e as relações entre o entorno de Bolsonaro e Marçal ficaram estremecidas. A tentativa de armistício foi por água abaixo quando, no ato de 7 de setembro promovido na Avenida Paulista pelo pastor Silas Malafaia, o empresário quis dar mais uma de suas “jogadas”. Marçal chegou ao final do evento, quis subir no trio e foi barrado. Marçal acusou a organização — leia-se, Malafaia — de perseguição. O golpe despertou a fúria do pastor, que perdeu a paciência e, desde então, é contumaz no disparo de vídeos quase que diários contra a “farsa” de Marçal, principalmente junto ao público evangélico.
Na segunda-feira, 30, Marçal envolveu-se em mais uma polêmica, dessa vez com outro segmento do eleitorado. Ele afirmou que mulheres não votam em mulheres porque são “inteligentes”.
“A Tabata é a mais inteligente, mas a sabedoria dela é a mais baixa, porque a sabedoria envolve experiência (…) Tabata, se mulher votasse em mulher, você ia ganhar no primeiro turno. Mulher não vota em mulher, a mulher é inteligente. Ela tem sabedoria, ela tem experiência. Ela olha para você e vê você sempre nesse embate, não vai votar em você”, afirmou Marçal durante debate promovido pela Folha/UOL.
“Se fosse isso, pobre votaria em pobre. Negro iria votar em negro. O único que tem um vice negro, de Pirituba, que é polícia, mulher, nordestina, se fosse assim, a gente iria vencer com 80% dos votos”, disse, em alusão à vice em sua chapa, Antônia de Jesus.
No final das contas, a verdade é que a estratégia de metralhadora giratória parece ter dado frutos e um saldo positivo para Marçal.
A sondagem mais recente do Instituto Paraná Pesquisas, desta terça-feira, 1º, aponta um cenário com desfecho difícil de ser previsto para o próximo domingo, 6, quando os paulistanos irão às urnas. De acordo com a pesquisa, Nunes tem agora 27% das intenções de voto (tinha 28% na última rodada), Boulos tem 25% (eram 24,9%) e Marçal, 22,5% (eram 20,5%). A ver quantas vidas mais terá o ex-coach.