Após operação da PF no caso do golpe, uma nova delação premiada à vista?
Nos bastidores , circulam comentários sobre a possibilidade de que outro ex-assessor de Bolsonaro passe a colaborar com as investigações
A manutenção de Filipe Martins atrás das grades depois da megaoperação da Polícia Federal (PF) que o prendeu na última quinta-feira, 8, esquentou conversas de bastidores especulando sobre uma possível delação premiada do ex-assessor de Jair Bolsonaro. Segundo a investigação da Polícia Federal, Martins teria entregue uma minuta de golpe ao ex-presidente. Em entrevista a VEJA, Bolsonaro negou a história. “Nunca chegou a mim nenhum documento de minuta de golpe, nem nunca assinei nada relacionado a isso. Até porque ninguém dá ‘golpe’ com papel”, disse.
De acordo com a PF, Martins seria o autor do documento, que teria sido reescrito e editado pelo ex-presidente, apenas para retirar as ordens de prisão do ministro Gilmar Mendes, do STF, e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Congresso. Outro ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, conforme as investigações, tinha até data para ser capturado, segundo o plano golpista.
Martins entrou para o governo Bolsonaro com a ajuda de um dos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Entusiasta de Olavo de Carvalho e Donald Trump, ele fez parte do núcleo ideológico do bolsonarismo e, de acordo com o que levantou a PF, era presença constante no Palácio da Alvorada, principalmente depois do segundo turno das eleições de 2022.
No começo do governo, assessorava diretamente o ex-chanceler Ernesto Araújo, ao lado de quem foi flagrado repetindo um gesto idêntico ao de supremacistas brancos, durante uma sessão do Senado. Martins foi denunciado pelo Ministério Público Federal e absolvido na primeira instância. Ele disse, em sua defesa, que estava ajeitando um botão do paletó.
Os rumores de uma possível delação de Martins citam o caso de Mauro Cesar Barbosa Cid. Principal braço direito de Bolsonaro durante a sua passagem pela Presidência da República, Cid foi preso pela PF no âmbito da Operação Venire, que colheu provas para a investigação do ex-presidente por supostas fraudes nos cartões de vacinação seu e de sua filha. Enquanto estava atrás das grades, Cid passou a ser investigado também no caso das joias sauditas e pelos ataques do 8 de Janeiro às sedes dos três poderes em Brasília. Tempos depois, negociou um acordo de delação premiada, e parte das informações deram embasamento à recente operação da PF.
Para alguns setores da esquerda, no entanto, há o temor de que exageros na atual investigação lembrem os piores momentos da Lava-Jato, acusada de usar as prisões para forçar acordos de delação.
Outro lado
Procurada, a defesa de Filipe Martins negou qualquer possibilidade de um acordo de colaboração e enviou a seguinte nota à reportagem: “De maneira enfática, os advogados João Vinícius Manssur e William Jenssen esclarecem que as recentes especulações sobre uma possível delação premiada por parte do Sr. Filipe Martins são completamente infundadas e carecem de qualquer base verídica”.