O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e crítico ferrenho da Lava-Jato e dos radicais envolvidos em atos antidemocráticos, assumiu a defesa da Jovem Pan, emissora que se notabilizou por ter em seus quadros jornalistas e comentadores alinhados ao governo e ao discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A comemoração da diplomação de Lula em 12 de dezembro foi na casa de Kakay, em Brasília, com a presença de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Criminalista de renome, Kakay disse a VEJA que aceitou advogar para a empresa e seus membros diante da mudança editorial que vem sendo promovida. Ele conta que, no final do ano passado, foi procurado pelo dono da Jovem Pan, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, conhecido como Tutinha, e por um diretor da emissora que garantiu a ele que o grupo pretende se firmar como um veículo de direita que respeita a democracia.
Um dos indicativos disso, na avaliação de Kakay, é a demissão, após as eleições de outubro, de um grupo de jornalistas de “linha mais virulenta”. “Acho que as demissões são uma demonstração clara de que eles querem dar uma guinada e colocar a coisa nos trilhos da constitucionalidade e do respeito ao devido processo. Essa postura me deixou à vontade para ser advogado deles”, afirmou o criminalista. “Tirar esse radicalismo que existiu no Brasil, que é uma das coisas que eu mais combato, é uma coisa positiva para toda a imprensa.”
De acordo com Kakay, a Jovem Pan lhe informou que jamais foi intimada pelo STF no âmbito dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos que tramitam na Corte — o que era uma condição para que ele assumisse a causa. Desde 2019, quando o STF abriu o inquérito das fake news sob críticas de juristas, Kakay foi um defensor do procedimento, em nome da defesa da institucionalidade.
O advogado não detalhou em quais processos vai atuar, mas informou que já está ajudando a Jovem Pan a responder a uma série de intimações recebidas nos últimos meses — nenhuma do STF.
No início deste ano, o Ministério Público Federal em São Paulo abriu inquérito, na esfera civil, para apurar a conduta da empresa “na disseminação de conteúdos desinformativos a respeito do funcionamento das instituições brasileiras e com potencial para incitar atos antidemocráticos”. Para o MPF, houve veiculação de notícias falsas e comentários abusivos.
Em novembro, o YouTube puniu os canais da Jovem Pan com a desmonetização, justificando que um de seus programas “violou repetidamente as políticas de combate à desinformação” adotadas pela plataforma. A empresa deve tentar reverter a punição na Justiça com a ajuda de Kakay. A Jovem Pan é um dos veículos de imprensa favoritos dos bolsonaristas e ganhou bastante audiência durante o governo passado.