Jilmar Tatto tem falado com Lula ao menos uma vez por semana. As conversas são monotemáticas: miram, obviamente, na estratégia que o candidato do PT à prefeitura de São Paulo deve adotar para chegar ao segundo turno.
Tatto ocupa hoje o incômodo 5º lugar das intenções de voto, com 5% da preferência dos eleitores, de acordo com o levantamento divulgado nesta terça pelo Instituto Paraná Pesquisas.
A ordem de Lula é torpedear o líder da corrida eleitoral, o tucano Bruno Covas, que aparece com 26,5% na mesma pesquisa. E, como era de supor, o PT vem acatando as orientação de seu guia e descido a ripa em Covas.
A campanha de Tatto passou a acusar Covas de propalar em suas peças publicitárias uma cidade que não existe. Também sustenta que o tucano depenou programas sociais importantes.
A estratégia soa heterodoxa. Via de regra, no primeiro turno, os candidatos costumam investir seus arsenais contra o adversário que mais ameaça seu plano de chegar ao segundo turno. No caso de Tatto, essa ameça atende pelo nome de Guilherme Boulos, terceiro colocado (13,4%), atrás de Celso Russomanno (19,5%).
A menos que haja uma hecatombe, Tatto e Boulos devem ocupar o mesmo palanque no segundo turno, contra quem quer que seja. Pode estar aí a explicação para o PT não explodir as pontes com o candidato do Psol, que conta com admiração de Lula e hoje está à frente de Tatto na corrida eleitoral.
A simpatia de Lula e outros grão-petistas por Boulos, inclusive, mantém vivas as especulações sobre uma eventual desistência de Tatto. Nesse cenário, o PT abraçaria a candidatura de Boulos e, consequentemente, aumentariam as chances de a esquerda garantir um dos seus no segundo turno.
O ex-presidente, nas conversas com o correligionário, insistia que Tatto precisava chegar ao final de outubro em condições reais de competir, para evitar o voto útil em Boulos ou mesmo em Marcio França, o quarto colocado (10%).
A conta para tirar Tatto do jogo, porém, não é simples. A possibilidade, já discutida internamente, traria pelos menos dois ônus importantes para o PT. O primeiro deles é financeiro.
Advogados consultados por integrantes da cúpula petista garantiram que a legenda terá de devolver recursos ao fundo partidário, caso retire a candidatura de Tatto.
Além disso, a ausência de um nome na corrida pela Prefeitura prejudicaria um bocado os candidatos a vereador do partido. Conquistar cadeiras de vereança Brasil afora é uma das prioridades do PT em 2020.
Coordenador da campanha de Tatto e homem de confiança de Lula, Gilberto Carvalho é taxativo ao falar sobre a chapa petista: “A hipótese de desistirmos, simplesmente, não existe”.