Em uma entrevista realizada na quinta, 3, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que um eventual novo governo petista não deverá manter a política de preços da Petrobras atrelada ao dólar, numa tentativa de controlar os preços dos combustíveis. “É importante que o acionista receba seus dividendos quando a Petrobras der lucro, mas eu não posso enriquecer o acionista e empobrecer a dona de casa que vai comprar um quilo de feijão e pagar mais caro por causa da gasolina”, disse o petista.
O problema é que manter artificialmente o preço do petróleo no mercado interno é uma aposta que já foi tentada e produziu consequências ruins no governo de Dilma Rousseff (PT) — um prejuízo estimado de 50 a 60 bilhões de reais à estatal. “A Petrobras deu prejuízo e se tornou a empresa mais endividada do mundo. Só não faliu porque é uma empresa estatal e o governo bancou”, afirma José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.
“Se o preço do dólar sobe, significa que o custo de produção aumenta”, diz Camargo. Ele alerta que todo mundo acabou pagando a conta com aumento de impostos e da dívida do subsídio governamental que foi dado ao preço dos combustíveis. “Não tem muito segredo. É só olhar o que já aconteceu”, afirma. Para ele, uma alternativa para baratear os combustíveis é estimular a competição, quebrando o monopólio da estatal no setor. “O lucro em concorrência é menor do que de monopólio”, explica.
O economista Maílson da Nóbrega, colunista de VEJA, alerta para as consequências de se abandonar do papel do sistema de preços em uma economia de mercado. “Quando o preço de um bem ou serviço sobe, o consumidor pode reagir buscando um substituto ou reduzindo o seu consumo. Isso faz com que esse preço caia. Manter os preços domésticos dos combustíveis quando as cotações do petróleo sobem, significa subsidiar um produto consumido pelas classes mais favorecidas, isto é, aquelas que possuem carros e até barcos de luxo.”