Assim se manifestou Lula na última terça-feira, 30, em post no Twitter: “Digo em alto e bom som: nós não vamos manter essa política de preços de aumento do gás e da gasolina que a Petrobras adotou por ter nivelado os preços pelo mercado internacional. Quem tem que lucrar com a Petrobras é o povo brasileiro”.
A desastrosa declaração pode ser interpretada como um raciocínio populista para manter ou ampliar a base de eleitores que o apoiam. Também poderia refletir uma inacreditável ignorância sobre como se formam os preços domésticos dos produtos da Petrobras. No primeiro caso, poder-se-ia admitir que Lula não levaria adiante a irresponsabilidade, caso vencesse as eleições presidenciais. No segundo, o ex-presidente estaria gerando graves incertezas sobre sua política econômica, na hipótese de vir a liderar novamente o país.
Seja como for, a afirmação é lamentável. A Petrobras não pode desprezar, na fixação dos preços dos combustíveis que vende, as cotações internacionais do petróleo. É assim com qualquer commodity que produzimos e/ou consumimos. Muitos preços, são natural e necessariamente influenciados pelos mercados internacionais. São os casos dos preços do óleo de soja, do trigo, do milho, do suco de laranja, da carne, do frango e até de produtos eletrônicos e outros comercializados no mercado interno.
Se Lula estivesse certo, poderia defender que esses produtos sejam vendidos no Brasil de forma desconectada de suas cotações internacionais. Ou ele não sabe que o óleo de soja, do pão e outros subiram de preço recentemente por causa do aumento de suas cotações em mercados globais? Muito provavelmente, ele sabe. Prefere, contudo, apelar para um tratamento diferente para os derivados de petróleo, por certo devido ao efeito simbólico do impacto do aumento de seus preços no consumidor.
A presidente Dilma Rousseff fez exatamente o que Lula agora anuncia como política de seu eventual governo. Ela obrigou a Petrobras a vender gasolina, diesel e gás a preços inferiores aos justificáveis pelas cotações internacionais, basicamente as do Golfo do México (EUA). Essa política, interrompida no governo de Michel Temer, produziu prejuízos bilionários à empresa, acarretando, em consequência, elevação substancial do seu endividamento. Até hoje a empresa paga por esse desastre.
A declaração irresponsável de Lula pode contribuir para agravar temores de que, uma vez eleito, possa adotar políticas populistas geradoras de incertezas, inflação, juros altos, baixo crescimento e desemprego. Lula precisa deixar de recorrer a instintos equivocados como esse, cercando-se de informações adequadas antes de se manifestar sobre temas sensíveis, como são os preços dos combustíveis.