O futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, tende a atuar como se espera de um integrante do Comitê de Política Monetária – Copom, que define a taxa básica de juros, a Selic. A expectativa é a de que tenha compromisso com as funções básicas da autoridade monetária, isto é, cumprir as metas de inflação e zelar pela estabilidade do sistema financeiro.
Logo após as primeiras informações de que Galípolo seria o escolhido do presidente Lula para substituir Roberto Campos, grande parte do mercado o enxergou com desconfiança, seja por textos que havia escrito, seja porque era ligado ao ministro da Fazenda e ao PT. Os temores aumentaram após a decisão de maio passado, em que a taxa Selic foi mantida em 10,5%, com um “racha”. No placar de 5/4 em favor da manutenção, os votos dissidentes foram os de Galípolo e de outros três diretores indicados por Lula. A interpretação foi a de que os quatro teriam proferido votos políticos.
Nos últimos dias, todavia, o próximo presidente do BC tem reiterado uma posição coincidente com as de Campos sobre a execução da política monetária. Isso incluiu, mais de uma vez, o compromisso de elevar a Selic caso isso seja necessário para fazer a inflação convergir para a meta atual, de 3%.
Há pelo menos quatro incentivos para Galípolo confirmar essa expectativa: 1) ele deve saber as consequências negativas da decisão de Alexandre Tombini, o presidente do BC que, no governo Dilma, liderou a decisão de baixar a Selic, quando o mercado esperava uma elevação; 2) ele sabe que a posição de presidente do BC eleva o patrimônio profissional de quem o exerce, credenciando-o a assumir posições de destaque no mercado financeiro ou na academia. Curvar-se a pressões para atender objetivos políticos do governo significa minar esse patrimônio; 3) ele hoje sabe mais do que sabia sobre o papel das expectativas no regime de metas de inflação, dada sua imersão nas discussões internas do Copom e nas análises da competente equipe de economistas do BC; 4) o banco goza de autonomia operacional, o que o habilita a resistir a pressões sem correr o risco de ser demitido.
Galípolo pode ser mais ou menos tolerante à inflação, aproveitando a margem da meta de inflação (1,5 ponto percentual para cima, atualmente). Isso também pode ser visto em outros bancos centrais, inclusive de países ricos. É muito baixa, pois, a probabilidade de ele repetir a desastrosa experiência da política monetária no governo de Dilma.