Quando o Banco Central começou a baixar o juro básico, em 19 de outubro de 2016, o IPCA/inflação oficial estava em 8,48% (12 meses).
A Selic era de 14,25%. Isso equivalia a uma Selic real, isto é, acima da inflação, de 68%.
E já nos colocava entre os campeões mundiais dos juros altos.
A Selic “caiu” ontem para 6,5%, correto?
Trata-se de uma taxa real de 129%, posto que a inflação de 12 meses está em 2,84%.
Pois é: desde a primeira redução nominal pelo BC, a Selic, na verdade, quase dobrou. De 68% para 129%.
Por quê?
De lá pra cá, e por causa da recessão, o IPCA despencou 66,5%. A Selic caiu menos: 54,38%.
Mas o que espanta mesmo é a evolução do juro cobrado da pessoa física desavisada que cai no cheque especial: o brasileiro pagava, em outubro de 2016, um juro que superava em mais de 3 mil vezes a inflação. A taxa nominal, já escorchante e proibitiva, segundo a Anefac, era de 296,33%.
Isso significa que o custo dessa infeliz operação subiu de 3.394% para inacreditáveis 10.360% (reais).
É o que representam os 297% ao ano que os bancos seguem cobrando no cheque especial, como se nada tivesse acontecido nem no IPCA, nem na Selic nominal.
297% é mais de 45 vezes uma Selic.
Estamos escolhendo “apenas” o juro mais alto cobrado da pessoa física, que os bancos resolveram dizer que – ora bolas – é uma parcela pequena do crédito geral?
Ok, olhemos então para o menos alto: o do financiamento de carros.
Em 2016, comprar um carro financiado custava 275% mais do que a inflação.
Hoje, custa 829% mais (26,4% ao ano nominal, segundo a Anefac, ou o quádruplo da Selic de 6,5%).
Alguém, por favor, me explica como tornar esse tipo de dívida sustentável.
Como esperar que o consumidor, que já não tem dinheiro hoje, e só por isso pede empréstimo, vai honrar seus pobres crediários.
https://www.anefac.com.br/uploads/arquivos/2018315161835543.pdf
Em outubro, aqui neste blog, escrevi o seguinte:
https://veja.abril.com.br/blog/lillian-witte-fibe/o-juro-caiu-falso/