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Reduzir complicações cirúrgicas no Brasil é uma necessidade imediata!

A implementação de um check list para promover a segurança do paciente cirúrgico está entre os itens fundamentais para reduzir complicações cirúrgicas

Por Ludhmila Hajjar
2 ago 2018, 13h33

A cirurgia é um procedimento definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um “componente essencial dos cuidados de saúde que na maioria das vezes pode prevenir incapacidades e reduzir o risco de mortes associado a doenças”. Entretanto, o procedimento cirúrgico resulta em um trauma e, na dependência da resposta do organismo e das condições técnicas e estruturais, pode gerar complicações sérias, incluindo mortalidade.

Aproximadamente 300 milhões de pessoas são submetidas a cirurgias anualmente em todo o mundo. Embora a maioria das cirurgias seja segura, uma proporção significante dos pacientes desenvolve complicações sérias que resultam muitas vezes em perda da qualidade de vida e elevadas taxas de mortalidade. Em países como o Brasil, 9 em cada 10 pessoas não têm acesso sequer a cirurgias mais simples. A disponibilidade de acesso universal à cirurgia segura pode salvar milhões de vidas, prevenir incapacidades e promover crescimento econômico.

Os pacientes de alto risco cirúrgico são os responsáveis pela maioria das complicações e por 80% dos custos. Atualmente, reconhecemos como pacientes de alto risco cirúrgico os pacientes submetidos a cirurgia de longa duração (tempo cirúrgico acima de 90 min), os idosos (idade maior ou igual a 65 anos), os portadores de doenças crônicas (problemas cardíacos, renais, respiratórios e neurológicos) e os pacientes operados em situação de emergência.

Quando consideramos que o Brasil vive nesse momento um período de transição demográfica com aumento da expectativa de vida da população, já temos a previsão do aumento progressivo do número de procedimentos cirúrgicos. Simultaneamente, a medicina evoluiu e hoje temos disponíveis técnicas cirúrgicas e anestésicas modernas que tornam possível a cura de muitas doenças antes sem possibilidade terapêutica.

Cirurgia segura

Cirurgia segura é considerada uma prioridade de saúde pública e muitas ações são reconhecidas em todo o mundo para reduzir as complicações cirúrgicas. Dentre elas, a implementação de um check list para promover a segurança do paciente cirúrgico e o cumprimento de protocolos de cuidado visando desfechos pós-operatórios são fundamentos reconhecidos como potenciais redutores de complicações cirúrgicas.

Um grande estudo europeu incluiu 44.814 pacientes submetidos a cirurgias em 27 países de todo o mundo (19 países desenvolvidos e 8 países em desenvolvimento). Uma taxa de complicações de 16,8% foi detectada: as infecções foram as mais frequentes, seguidas das complicações cardiovasculares e hemorrágicas. A mortalidade variou de 0,5% a 4%.

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E no Brasil, como são estes dados? Infelizmente, não temos o retrato do problema no nosso país.  A epidemiologia do paciente cirúrgico não é conhecida, não há protocolos estabelecidos de cuidado no período perioperatório, assim como os resultados não são auditados. Milhares de mortes poderão ser evitadas se conseguirmos modificar esse cenário. Na maioria das situações na medicina, o médico se depara com a doença já instalada, e a partir do processo já deflagrado, tenta implementar terapias para modificar sua história natural.

Por outro lado, a medicina perioperatória representa um momento oportuno de prevenção de complicações e de estabelecimento da cura uma vez que o tempo do insulto é conhecido, e o ambiente pode ser modulado para se tornar mais seguro e eficiente.

Os países europeus, na última década, adotaram uma estratégia liderada pelos profissionais da saúde e implementaram ações multidisciplinares para melhorar os resultados cirúrgicos, em parceria com o governo e a sociedade civil. Isto promoveu uma revolução no cuidado do paciente cirúrgico, com menores taxas de mortalidade, melhoria na qualidade de vida e redução considerável dos custos. O Brasil precisa reconhecer este problema e envolver os profissionais de saúde, o governo e os pacientes, para modificar o cenário atual de desconhecimento, de falta de protocolos e ausência de auditoria sobre os resultados cirúrgicos.

Falando de riscos

Com o objetivo de iniciar uma campanha nacional, cujo foco é a melhora de resultados cirúrgicos, realizaremos nos dias 3 e 4 de agosto de 2018, o I Simpósio Internacional do Paciente Cirúrgico de Alto Risco, em São Paulo. Estarão presentes os maiores nomes internacionais que contribuíram para a mudança de cenário do paciente cirúrgico em todo o mundo. São eles: Jean Louis Vincent (Belgica), Daniel de Backer (Belgica), Rupert Pearse (Inglaterra), Neil McDonald (Inglaterra), Jean Louis Teboul (França), Massimo Girardis (Italia) e Donat Spahn (Suiça).

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Esses expoentes da medicina intensiva mundial estarão reunidos apresentando aos médicos brasileiros as evidências científicas que fundamentam as condutas e as decisões no paciente cirúrgico. A partir de então, em parceria com a Inglaterra, com o apoio do Ministério da Saúde, o Brasil iniciará um grande banco de dados sobre os pacientes cirúrgicos e ao mesmo tempo, serão implementadas estratégias capazes de prevenir complicações, por meio do treinamento dos profissionais de saúde e da disponibilização de estrutura mais adequada para o cuidado do paciente cirúrgico.

Esperamos salvar milhares de vidas dos nossos pacientes cirúrgicos, além de estarmos contribuindo para melhora considerável da sua qualidade de vida.

 

Doutora Ludhmila Hajjar, blog letra de médico

 

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