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Proposições para este ano e a sobrevida após o câncer de próstata

A longevidade ou a taxa de sobrevida após o câncer de próstata pode ser reescrita

Por Marcelo Bendhack
9 mar 2020, 15h09
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  • Tempo, tempo, tempo, tempo
    Vou te fazer um pedido
    Tempo, tempo, tempo, tempo
    (Oração ao Tempo, Caetano Veloso, 1979)

    Tempo, substantivo masculino, um dos mais citados por pacientes diagnosticados com câncer de próstata. E ele invoca a questão da taxa de sobrevida, que não pode e nem deve ser respondida de forma simples, para não causar desespero ou falsas ilusões.

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    De modo geral, o tempo a mais de vida após a detecção do câncer é de cinco anos. Isso é uma probabilidade estatística em relação ao sucesso do tratamento, sem fazer juízo do tipo de tratamento. Mas a prática clínica ensina que toda a avaliação é relativa, até porque quem não conhece casos de pacientes desenganados, que supostamente teriam pouquíssimo tempo de vida e que, no entanto, sobreviveram (e sobrevivem) anos, décadas após o fatídico anúncio médico?

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    É extremamente natural o paciente questionar o tempo de vida. Assim como é imprescindível considerar casos específicos. E nada como ter uma conversa franca com seu médico.

    A taxa de sobrevida é relativa porque, em geral, determinado tipo de câncer pode indicar que 90% dos pacientes terão sobrevida de cinco anos. Isso quer dizer que 90 em cada 100 pacientes poderão viver mais do que cinco anos após o diagnóstico. Mas nem sempre é assim. Muitos viverão por muito mais tempo após o diagnóstico. Essa taxa, por exemplo, é baseada para pacientes diagnosticados com câncer de próstata, segundo o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos (National Cancer Institute / NCI), e corroborada pela Sociedade Americana de Câncer (American Cancer Society / ACS).

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    Mas tanto as organizações internacionais quanto as brasileiras (no caso o INCA, por exemplo) sabem que além das estatísticas há inúmeros outros fatores que devem ser considerados. Para o câncer de próstata fatores como idade, estado geral de saúde do paciente, nível do PSA, opções de tratamento e como cada indivíduo e a própria doença responde ao tratamento devem ser levados em consideração na hora de apontar um prognóstico “definitivo”. Ou a taxa de sobrevida.

    Longevidade

    Quando se fala em sobrevida após o diagnóstico do câncer de próstata também é preciso avaliar em qual região do órgão o tumor se localiza e se a doença foi diagnostica ainda na fase inicial.

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    A prática clínica costuma ser forte aliada e inspiradora. Embora cada paciente responda de forma única ao tratamento, de modo geral é consenso que quanto mais precoce a doença é diagnosticada, melhor será a qualidade de vida do paciente após o tratamento, bem como sua taxa de sobrevida e cura.

    Acompanho de perto um paciente que meses antes do tratamento tinha inúmeras dúvidas e aflições sobre o que significava “sobrevida”. Diagnosticado com câncer de próstata e após realizar diversos exames no Brasil, embarcou para a Alemanha. Realizaria uma cirurgia quando retornasse ao país.

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    Na época, também o atormentava que o tratamento não interferisse na sua potência sexual – uma questão legítima de todo homem. Foi então, por indicação de um amigo, que descobriu um novo tratamento realizado em um hospital de Munique. Optou pelo tratamento na Alemanha, e realizaria os exames de controle no Brasil. Até porque, orientado pelos médicos, sabia que em caso de recidiva poderia fazer um novo tratamento (chamado de resgate).

    Desde 1999, após o tratamento na Alemanha, acompanho esse paciente de perto, realizamos todos os exames, como PSA e biópsia. Já se passaram 20 anos, sem sinais de câncer, goza de plena saúde aos 90 anos de idade e é o paciente mais longevo no que diz respeito ao acompanhamento do câncer da próstata no Brasil, após terapia com HIFU.

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    Hábitos saudáveis, sobrevida e longevidade

    A longevidade de um paciente sempre faz surgir algumas perguntas. O que ele fez após o tratamento? Mudou seu estilo de vida? Por que alguns são mais longevos e outros não?

    O caso deste paciente brasileiro não é mero acaso. Ele relata que tem alimentação balanceada, seu prato é composto por verduras, feijão e arroz, come pão integral e pratica atividade física, caminhadas, principalmente na praia. E detalha: como foi construtor, subia e descia escadas, sempre foi muito ativo.

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    Recentemente foi publicado no periódico científico International Journal of Epidemiology um estudo inédito, financiado pelo Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer (World Cancer Research Fund / WCRF) e por uma organização sem fins lucrativos (Cancer Research UK). O estudo realizado por cientistas da Universidade de Bristol (Reino Unido) analisou os dados de 140 mil homens e apontou que os que praticavam mais atividade física apresentavam um risco 51% menor de câncer da próstata.

    O mais interessante é que essas atividades não precisavam ser intensas, bastava fazer coisas simples, como jardinagem ou caminhada. Por ser um estudo genético, conhecido como randomização Mendeliana, trata-se de um método muito mais rigoroso para calcular o risco, e para avaliar os impactos positivos de uma simples atividade física em prol da diminuição da incidência de tumores na próstata. É mais um excelente sinal de que a atividade física só traz benefícios.

    A longevidade ou a taxa de sobrevida após o câncer de próstata pode ser reescrita. Para colaborar com estatísticas mais positivas, uma dica: mexa-se, pratique alguma atividade física. Nem que seja jardinagem.

    Para saber mais sobre o estudo “Appraising causal relationships of dietary, nutritional and physical-activity exposures with overall and aggressive prostate cancer: two-sample Mendelian-randomization study based on 79 148 prostate-cancer cases and 61 106 controls”: https://academic.oup.com/ije/advance-article-abstract/doi/10.1093/ije/dyz235/5650986?redirectedFrom=fulltext

    Letra de Médico - Marcelo Bendhack
    (./Divulgação)
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