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Por que o suicídio já é a terceira causa de morte entre os adolescentes

Os filhos devem morrer após seus pais! O sofrimento emocional daqueles que ficam tende a ser muito mais complicado quando essa lei natural é invertida. O assunto se torna ainda mais complexo quando a causa da morte de um adolescente é o suicídio. A culpa tende a invadir e corromper o luto. Inúmeros depoimentos de […]

Por Luis Augusto Rohde
Atualizado em 30 jul 2020, 21h26 - Publicado em 1 nov 2016, 14h01
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    Os filhos devem morrer após seus pais! O sofrimento emocional daqueles que ficam tende a ser muito mais complicado quando essa lei natural é invertida. O assunto se torna ainda mais complexo quando a causa da morte de um adolescente é o suicídio. A culpa tende a invadir e corromper o luto. Inúmeros depoimentos de pais de jovens suicidas nos atestam clinicamente que um fantasma em termos de pensamento automático ronda constantemente suas mentes por muitos anos: “Eu podia ter evitado! Se eu tivesse…”
    A questão do suicídio pode ser abordada por diversas vertentes. Suicídios históricos como o de Sócrates alimentam discussões filosóficas intermináveis sobre o direito de pôr fim à própria vida. Posições religiosas condenando o suicídio fazem que registros epidemiológicos em diversos países sejam completamente subestimados. Suicídios coletivos, mesmo no reino animal, alimentam discussões sociológicas intermináveis.

    A nossa questão aqui é mais pragmática! Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que ocorre um suicídio a cada 40 segundos no mundo! O suicídio é a terceira causa de morte em adolescentes nos EUA e a segunda na Europa. Se considerarmos que os acidentes de trânsito (segunda causa) podem, muitas vezes, encobrir tentativas de suicídio, o caldo entorna ainda mais! O professor Maurício Kunz, da UFRGS, nos mostra, em excelente conferência sobre suicídio para o público geral (https://www.youtube.com/watch?v=-4ksdLXwdy4), que dados brasileiros apontam para um aumento de 1 900% nas taxas de suicídio entre jovens de sexo masculino e 300% em jovens do sexo feminino.
    Mais importante do que isso são os dados que indicam que 90% dos suicídios ocorrem em portadores de doenças psiquiátricas, em especial os transtornos de humor e, mais especificamente, as depressões. Compreende-se então a relevância de campanhas de prevenção de suicídio, como o Setembro Amarelo, trazida para o nosso país pela Associação Brasileira de Psiquiatria.

    Um problema de saúde pública?

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    Mas por que o suicídio na adolescência tem de ser encarado como um problema de saúde pública? Estatísticas em diversos países confirmam que 10 a 15% dos adolescentes vivenciam quadros depressivos. Um certo grau de impulsividade é traço característico da adolescência em razão do controle inibitório ainda imaturo e a experimentação de drogas é frequente nessa fase. Considerando que ambos são também fatores de risco para o suicídio, a mistura se torna explosiva!
    Como os pais podem estar atentos a esse problema? Modificações de comportamento em adolescentes como tendência a maior reclusão e isolamento, perda de prazer em atividades habituais, modificações na forma de encarar o mundo com visões fortemente negativas ou niilistas devem acender a luz amarela! Estudos mostram que há uma clara relação entre ideação de morte eventual, bastante frequente, ideação de suicídio, plano suicida, tentativa e suicídio realizado! Tentativa prévia, aliás, é um dos principais fatores de risco. Portanto, esqueça mitos do tipo: quem quer se matar não avisa! Na dúvida, converse com o seu filho abertamente sobre sentimentos depressivos e suicídio. Outro mito, aliás, sem comprovação: nada indica que falar abertamente sobre o assunto aumenta o risco.

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    Na adolescência, suporte familiar e rede social são tudo! Reflita como está a dinâmica familiar, tem havido diálogo? Como as tensões inerentes à fase estão sendo enfrentadas na família? O seu filho tem uma saudável “rede social” saudável? E o papel da internet? O adolescente está conectado online sete dias por semana, vinte e quatro horas por dia! O que ele está acessando e com quem está conectado? Tem entrado em sites e chats de discussão sobre suicídio e que ensinam como dar fim à vida? Pois é, eles proliferam na internet. A construção da identidade na adolescência passa pelas identificações grupais e o fenômeno do suicídio imitativo em adolescentes é de longa dada descrito na literatura.

    O seu filho tem sido vítima de ciberbullying? Casos como da jovem Tiziana Cantone, na Itália, que se suicidou em setembro passado após ter vídeos de conteúdo erótico privado transformados em conteúdo viral na internet vêm se tornando mais frequentes. Apenas para lembrar, ela fez duas tentativas prévias!

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    Enquanto andamos longe de países como a Austrália, que encara com seriedade a prevenção da depressão e suicídio em jovens, através de construção de espaços de convivência próximos a eles como os headspaces e programas de serviços de autoajuda online para jovens, os pais, mais do que nunca, têm de estar ligados!

    Voltando à filosofia e aos conturbados dias atuais, vale a reflexão de Albert Camus: “Existe uma única questão filosófica importante, o suicídio. A realização do absurdo exige suicídio? Não. Exige revolta”. Para adolescentes, exige também atenção redobrada de seus cuidadores.

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