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O fim registrado: qual a importância de uma carta de suicídio?

Estudos sugerem que até um quinto das pessoas que cometem suicídio deixam uma carta, bilhete ou nota a respeito de seu ato final

Por José Alexandre Crippa
Atualizado em 13 mar 2017, 13h45 - Publicado em 13 mar 2017, 13h45
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  • “A tristeza vai durar para sempre (La tristesse durera toujours)”, registrou Vincent Van Gogh (1853-1890), que sofria de depressão e de outras doenças, antes de dar um tiro no peito e agonizar por dois dias junto ao seu irmão antes de morrer.

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    “Tenho certeza de que eu vou enlouquecer novamente (I feel certain I am going mad again)”, deixou escrito a poeta Virginia Woolf (1882-1941), na carta para o seu marido. A autora de Mrs. Dolloway, que tinha transtorno bipolar, encheu os bolsos do seu casaco de pedras para se afogar no Rio Ouse próximo a sua casa.

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    Já o fundador da Kodak, George Eastman (1854-1932) que popularizou a fotografia com a invenção do filme de rolo, foi ainda mais sintético: “Meu trabalho está feito. Por que esperar? (My work is done. Why wait?)”. Ele sofria de dores terríveis decorrentes de uma doença degenerativa em sua coluna vertebral.

    Embora os dados sejam variáveis, alguns estudos sugerem que até um quinto das pessoas que cometem o suicídio deixam uma carta, bilhete ou nota a respeito de seu ato final.

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    Antes do século XVIII poucas pessoas se preocupavam em registrar seus últimos e dolorosos momentos, pois uma minoria era alfabetizada e, principalmente, aqueles que se suicidavam tinham sua honra e a de suas famílias desmerecidas. Entretanto, as cartas de suicídio daquela época não diferiam muito das atuais em relação aos motivos, sintomas e condições psiquiátricas. Do mesmo modo, estudos recentes não encontraram diferenças entre o conteúdo das cartas deixadas por pessoas de países e culturas distintas, como Estados Unidos, México, Canadá e Austrália – o que sugere um caráter universal na expressão do desejo de morrer.

    Geralmente, a presença de um diagnóstico psiquiátrico ocorre em pacientes que cometem suicídio, sendo que aproximadamente 80% destes têm depressão, embora os dados possam variar e outras causas possam ocorrer. Desonra, amor e ódio, vingança, temperamento, doença terminal, aspectos ligados a cultura e até altruísmo também têm sido descritos como motivações de suicídio e, muitas vezes, ficam postumamente representados nas cartas.

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    Sabe-se que as taxas de suicídio aumentam com a idade, com maiores índices naqueles com mais do que 65 anos. As cartas deixadas por pessoas mais idosas relatam mais desesperança, fadiga, desespero e tratam sobre problemas nos seus relacionamentos interpessoais, que muitas vezes são significativos para a decisão de morrer.

    Nesta linha, o psicólogo canadense Antoon Leenaars caracterizou as notas de suicídio em relação a idade:

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    Do mesmo modo, em pesquisa recente (2016), verificou-se diferenças nas cartas de suicídio relacionadas ao gênero. Os escritos das mulheres apresentam conteúdo indicando mais desesperança, sensação de derrota, aprisionamento, além de outros sintomas.

    Mais recentemente, uma nova modalidade de cartas de suicídio emergiu com o uso e a popularização da internet. De modo preocupante, já há numerosos relatos de notas de suicídio em postagens no Facebook e em outras formas de mídias sociais on-line. Surpreendentemente, existem inclusive websites que facilmente preparam cartas de suicídio apenas combinando o nome, o motivo para o ato (a partir de uma lista) e a quem será deixada a mensagem, o que, infelizmente, vem ganhando popularidade entre os mais jovens.

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    Sabe-se que a detecção de pessoas com risco de suicídio iminente é um enorme desafio de saúde pública, pois nem sempre os pacientes que tentam se matar revelam previamente a sua ideação. Neste sentido, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) sugere perguntar a todas as pessoas com algum sinal de risco de suicídio, se escreveu (ou planeja escrever) uma carta de despedida. Assim, medidas preventivas como campanhas educativas, criação de grupos de apoio como o Centro de Valorização da Vida (CVV) e ações de promoção em saúde são fundamentais para o manejo da pessoa que decide morrer.

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    Estudos prospectivos têm demonstrado que bons, estáveis e profundos relacionamentos com pessoas próximas (reais, “não-virtuais”) são fatores que ajudam na manutenção da qualidade de vida e felicidade. E, se houver pensamentos de tirar a própria vida, a pessoa deve ser encaminhada para um profissional de saúde mental de imediato. Isto para que não ocorra como no caso da poeta Sylvia Plath (1932-1963), cuja nota de suicídio encontrada apenas após sua morte continha uma única e irônica sentença: “Por favor, telefone para o meu psiquiatra (Dr Horder)”.

     

    (Celio Messias/VEJA.com)

     

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