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Não temos mais barões do café para aliviar o déficit da saúde

Na retomada, não há sinais de mudança de atitude dos players que integram a cadeia de cuidados. A dificuldade de acesso à saúde complementar ainda existirá

Por André Ibrahim David
15 nov 2021, 14h51
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  • Há quase 150 anos, próximo ao Pátio do Colégio e a Catedral da Sé, na emancipada São Paulo, antes São Paulo de Campos de Piratinga, na Santa Casa de edificação neogótica, as freiras enfermeiras acolhiam os enfermos em largas e bem ventiladas enfermarias. Neste mesmo período, a comunidade portuguesa acolhia a população necessitada no bairro do Paraíso; os alemães, sírio-libaneses, italianos, japoneses, ingleses-americanos e judeus também o faziam, os acolhendo nos seus respectivos hospitais das colônias.

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    Numa época de poucos tratamentos e mínimos materiais e aparelhos para diagnóstico, com a doação dos barões do café, comerciantes bem-sucedidos, políticos e recebimento de parte ou todo de heranças, era possível manter o atendimento e os cuidados hospitalares.

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    Essa era romântica da Medicina e da Enfermagem não existe mais. Não porque as instituições fecharam, mas porque a complexidade do acolhimento, do diagnóstico e do tratamento atingiu altos custos antes de as equipes médicas e os gestores aprenderem a fazer mais com menos. Neste artigo, vou me ater à saúde suplementar. O SUS tão necessário será abordado em breve.

    Crise após crise, ainda não solucionamos esta equação: população + fonte pagadora = despesas médico-hospitalares. Os clientes pagadores de convênio e seguros saúde gostam de poder fazer muitos exames, de ter comida de restaurante (hotelaria), médicos pós-graduados (Google-check) e de terapias sem dor (ou mínimo desconforto) com as cirurgias minimamente invasivas.

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    As empresas de saúde movimentam grandes somas financeiras, porém a possibilidade de alguns sinistros, de má gestão e percalços jurídicos podem prejudicá-las, e muito. Historicamente, muitas faliram. Enumerá-las seria enfadonho e desnecessário.

    A pandemia do novo coronavírus foi um super-sinistro que escancarou as deficiências do sistema privado de algumas empresas que operavam no limite da eficiência e com alto controle de custos. Medicina barata sai caro…, este dogma é eterno!!

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    As despesas médico-hospitalares estão sendo revistas por gestores e comitês de especialistas, porém os bons protocolos nunca serão de baixo custo, assim como a mão-de-obra diferenciada para agregar este valor. Pontos colocados para reflexão, nós (população) temos que diminuir nossa expectativa de “cliente” e nos posicionar como “enfermos”, que apenas necessitamos ser acolhidos e tratados com o que é realmente necessário para a nossa cura.

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    As fontes pagadoras têm de conhecer e investir na saúde de seus segurados, assim como definir com os hospitais as linhas de cuidado e os profissionais envolvidos na terapia multidisciplinar. Tecnologia do novo milênio nós já temos, muito democrática e barata como os wearables.

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    Não temos mais nenhum barão do café que possa aliviar o déficit deste ou daquele mês. Precisamos colher os grãos do dia-a-dia, todos juntos, conversando e distribuindo-os igualmente nos cestos. Se alguém quiser encher muito o seu, provavelmente não vai conseguir carregá-los e os derrubará.

    Infelizmente, nesta retomada, não há sinais ainda de mudança de atitude de nenhum dos players. A dificuldade de acesso à saúde complementar ainda será uma realidade para a maioria da população, que continuará pressionando o SUS de todas as formas. Espero que nesta década os políticos e administradores melhorem estes processos e que os profissionais da saúde possam realizar seu trabalho com magnificência, salvando vidas e mantendo a esperança de um povo tão sofrido.

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    O médico André David -
    (./Arquivo pessoal)
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