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Homem não chora?

A sociedade ensina os meninos a não chorarem e esconderem seus sentimentos, mas isso pode ter graves repercussões e gerar frustrações em suas vidas

Por Mauro Fisberg
14 jun 2017, 13h24
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  • Meus amigos sabem que sou um chorão. Recentemente passei por dois episódios que comprovaram este fato. O primeiro se passou ao voltar de uma viagem, ao pegar um táxi no aeroporto. A motorista aparentemente estava bastante resfriada e usava um lenço com bastante frequência. Ao chegar a minha residência, ela se vira e me pede desculpas, e vi que estava chorando.

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    Sem entender, perguntei por que pedia desculpas. Ela então me contou que o passageiro anterior na fila dos táxis, havia recusado entrar em seu carro por que ela era mulher… E me perguntou, chorando, se havia sido ruim para mim.(!) Eu simplesmente respondi que havia sido uma honra ter sido levado por ela. Quem deveria estar chorando era o irremediável machão que me precedeu na fila. Por preconceito. Isto me fez pensar em como ainda temos um machismo complexo e desenfreado, em atividades absolutamente normais na nossa vida diária.

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    O segundo episódio aconteceu no teatro, ao assistir a um concerto de música clássica ouvindo a música Réquiem, de Fauré. A soprano, sentada, quieta e com um visual de madona italiana, levanta-se e de repente se transforma, em um solo perfeito com uma voz angelical. Logo em seguida, o movimento final, com um coro infantil, reflete toda a beleza de uma despedida. E aproxima-nos do paraíso. Vozes celestiais? E eu chorei novamente…

    “Chorar é coisa de menina”

    E me lembrei do que se fala. Meninos não choram. Isso é coisa de menina. E toda a confusão de gênero, em que os papéis na sociedade são ridiculamente separados, em que o homem não expõe seus sentimentos, e aguenta. Em que pais ainda separam os filhos por cores pré-estabelecidas, azul e rosa. Em chorões e maricas, em homens fortes e mulheres fracas. Em brinquedos de guerra ou bola, bonecas e cozinhas. E queremos que não exista assédio, que não tenhamos respostas estereotipadas a comportamentos não previstos no nosso código sexual.

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    Assim, meninos não podem chorar. Na vacina, nos exames de sangue, nas salas de pronto socorro ao serem costurados por suas inúmeras quedas. Meninos não mostram o que sentem, meninas são frágeis e podem assumir o que vivem. Desta forma, meninos se transformam em homens inseguros e sem identidade adequada. E rotulam e julgam comportamentos pela forma como foram educados.

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    Mas a vida não é exatamente assim. Somos diferentes e os sentimentos são individualmente determinados. Um menino não pode almejar uma profissão exclusivamente feminina. E isto existe? Uma menina não deve jogar e competir de forma violenta porque não está assumindo sua feminilidade. Ela não pode ser julgada por uma roupa ou porque quer expor sua beleza ou como se sente…

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    A importância de deixar a sensibilidade aflorar

    Como podemos não deixar nossa sensibilidade aflorar? Como os pais podem coibir que tenhamos a sensibilidade de nos emocionar com a beleza de uma música, de um trecho de um livro, de uma passagem em um filme?

    Mostrar lágrimas significa essencialmente um elogio a beleza. E isto é independente de nossa condição masculina ou feminina, de sermos fracos ou fortes, covardes ou heróis, homens ou mulheres. Cada um tem respostas diferentes a relacionamentos e meninos devem se comportar como meninos e meninas como meninas? Não podemos abraçar, não podemos beijar, não podemos chorar? Isto nos faz menos homens? Isto nos faz sermos mulheres e homens melhores?

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    Talvez esta divagação não lhes pareça muito médica, muito menos de saúde. Mas eu lhes digo que é essencialmente preventiva. Que os nossos pais de hoje pensem em como podem educar seus filhos de forma saudável, sem estereótipos, sem chavões ou preconceitos. Talvez seus filhos tenham um modo de vida mais aberto, menos enfermo. Meninos e homens choram, e isto é extremamente saudável e em muitas ocasiões necessário. Afinal, beleza, alegria, tristeza, saudades, amor e outros sentimentos, podem ser mostrados e sentidos, com risos e também com lágrimas.

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    Ao meu filho, e a todos os nossos filhos, com muito amor e que possam chorar quando quiserem.

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    (Heitor Feitosa/VEJA.com)

     

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