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Como o estudo da epigenética impactará o controle do câncer de próstata

Campo que investiga como fatores ambientais influenciam atividade dos genes abre perspectivas de classificar, acompanhar e tratar melhor a doença

Por Marcelo Bendhack*
Atualizado em 26 fev 2024, 18h21 - Publicado em 26 fev 2024, 08h00

O câncer de próstata é uma doença devastadora que ameaça a saúde de todos os homens, especialmente no último terço de vida. Nos Estados Unidos, o risco ao longo da vida de ser diagnosticado com a doença é de aproximadamente 13%, e o risco de morte, 2,5%. A estimativa de novos casos e óbitos em todo o mundo é de 1.414.259 e 375.304, respectivamente. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) prevê 71.740 novos casos para o triênio 2023/2025.

Os números assustam e, por isso, novas pesquisas e terapias são fundamentais. Daí os avanços e desdobramentos nos campos da biologia molecular, da genética e da epigenética — que representa a interface entre os genes e o ambiente. Todas elas têm se debruçado em entender as causas, a proliferação e a evolução do câncer.

Após mais de quarenta anos de pesquisas sobre tumores, não foi possível provar que um número limitado de mutações em determinados genes seja a causa para que uma célula se transforme e se torne uma célula cancerosa. Em vez disso, os tumores desenvolvem alterações dinâmicas e heterogêneas no número de seus cromossomos ou em partes individuais deles. Isso porque há uma enorme instabilidade da composição cromossômica, chamada em termos técnicos de aneuploidia.

As mutações nos genes se referem a alterações na sequência de DNA que compõe um gene específico. O DNA, ou ácido desoxirribonucleico, é a molécula que contém as instruções genéticas para o desenvolvimento e funcionamento dos organismos. Os genes são segmentos específicos de DNA que codificam informações para a produção de proteínas, as quais desempenham papéis fundamentais nas funções celulares.

Uma mutação pode ocorrer de várias maneiras e envolver a substituição, inserção ou eliminação de pares de bases no DNA. De fato, existem diferentes tipos de mutações , mas, quando elas ocorrem em um número limitado em determinados genes, não indicam necessariamente que surgirá um câncer. Por isso, aprofundar o conhecimento com base em estudos científicos pode significar um salto na evolução da medicina diagnóstica e preventiva e nos prognósticos.

Ao avaliar diversos estudos publicados em revistas de renome internacional, um grupo de cientistas da Universidade Heinrich Heine, em Düsseldorf, na Alemanha, tem investido numa linha de pesquisa que aponta não apenas para o papel das mutações genéticas, mas para os mecanismos epigenéticos envolvidos no câncer de próstata.

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Apesar de parecer complexa, a epigenética é de fácil compreensão para o público leigo. Isso porque as conexões com o mundo real estão muito próximas do seu dia a dia. Explico: a epigenética trata das mudanças hereditárias na expressão genética ou na função celular que não envolvem alterações na sequência de DNA.

Essas modificações, por exemplo, podem ser influenciadas por fatores ambientais: estilo de vida, estresse, tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e exposição a substâncias químicas e raios solares.

Conhecimento terapêutico

O professor Simeon Santourlidis, da Universidade Heinrich Heine, é um dos que tem se debruçado sobre a ampla evidência científica do campo emergente e cada vez mais importante da epigenética. Ele e sua equipe têm avaliado a instabilidade causada por mecanismos epigenéticos que são interrompidos na célula degenerada, e conseguiram demonstrar várias alterações em genes e sua relação com o desenvolvimento e a metástase do câncer de próstata.

Uma das hipóteses apresentadas é que será possível obter uma classificação epigenética do câncer de próstata para resolver um dos problemas mais importantes da uro-oncologia atual, ou seja, a diferenciação precoce do câncer de próstata agressivo do câncer (assintomático) em fase inicial, que pode ser apenas observado.

Na prática – e é isto que interessa ao leitor –, as pesquisas em torno do câncer, sobretudo do câncer de próstata, trazem a possibilidade de novas combinações de biomarcadores epigenéticos, que podem identificar padrões específicos em um conjunto de genes, ou em regiões do genoma, e fornecer informações sobre a atividade gênica, o estado celular e até mesmo indicar a presença tumores e/ou o desenvolvimento tumoral.

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Esses padrões podem ser usados como biomarcadores para a detecção do câncer de próstata, embora não estejam limitados apenas a esse tipo de tumor. Isso significa que terapias mais suaves, como as terapias focais ou a vigilância ativa, poderão ser aplicadas muito mais cedo.

Hoje, sabe-se, o diagnóstico precoce do câncer de próstata pode aumentar as chances de cura em até 90%. Essas novas descobertas abrem caminhos para uma melhoria significativa no diagnóstico, prognóstico e acompanhamento da doença. Quem ganha é o paciente.

* Marcelo Bendhack é médico urologista, uro-oncologista e presidente da Associação Latino-americana de Uro-oncologia (Urola)

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