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Mitos atrapalham diagnóstico e tratamento do câncer

No Dia Mundial do Câncer, especialistas derrubam desinformação e estigmas que dificultam busca por detecção e controle da doença

Por Angélica Nogueira-Rodrigues e Isabella Tavares*
8 abr 2023, 11h00

Segundo o último levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 10 milhões de pessoas morrem todos os anos por câncer. Esse grupo de doenças representa a segunda principal causa de óbitos no planeta, só perdendo para os problemas cardiovasculares.

E, na contramão dos avanços científicos que elevam as chances de cura e de prevenção de vários tipos de tumores, mitos insistem em rondar pacientes e familiares, atrapalhando a busca por diagnóstico e tratamento adequado.

Na França, são realizadas pesquisas regulares, os Barômetros do Câncer, com o objetivo de analisar a evolução de conhecimentos, percepções e estilo de vida em relação à doença e seus principais fatores de risco. A última delas, realizada recentemente pelo Instituto Nacional de Câncer francês, mostra que crenças equivocadas resistem ao longo dos anos, ameaçando um melhor controle da doença.

A primeira delas é a noção de que o câncer é sempre uma doença hereditária. Quase 70% dos entrevistados na pesquisa francesa acreditam nisso. Na verdade, as pessoas confundem hereditariedade com genética. Pode, sim, existir uma maior predisposição familiar a alguns tipos de tumor, mas isso não significa que a pessoa vai herdar a doença nem pode fazer nada para se proteger, adotando comportamentos preventivos. Embora a genética desempenhe um papel no câncer, muitos casos podem ser evitados com mudanças no estilo de vida, como parar de fumar, alimentar-se melhor e fazer exercícios, e exames preventivos.

Segundo mito: o câncer é sempre uma sentença de morte. Muitas pessoas ainda acreditam que um diagnóstico se traduz no fim da vida. Mas a verdade é que a maioria dos cânceres são curáveis, e, em alguns subtipos, como cânceres germinativos, aqueles que afetam células que dão origem aos espermatozoides e óvulos, esse percentual pode atingir 98%. Apesar de todos os avanços recentes para o tratamento do câncer, prevenção primária e detecção precoce seguem sendo as estratégicas mais eficazes para seu controle.

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Terceira informação equivocada: terapias alternativas podem curar o câncer. Não existe comprovação científica de que tratamentos como remédios à base de ervas, acupuntura e suplementos dietéticos curam o câncer, e eles podem ainda interferir nos tratamentos convencionais. É essencial discutir quaisquer terapias alternativas com o profissional de saúde que acompanha o caso antes de iniciá-las.

Quarta lenda: o câncer só afeta pessoas mais velhas. Embora a incidência do câncer aumente, sim, com a idade, ele pode afetar pessoas de qualquer faixa etária, incluindo crianças e adultos jovens. É importante estar ciente de quaisquer sintomas ou alterações incomuns em seu corpo e levá-los a um médico. Consultas e exames periódicos ajudam a nos resguardar nessa jornada.

Quinto mito, ainda incrivelmente compartilhado por aí: tumores são contagiosos. Não, não são. Existem vírus relacionados ao câncer que são contagiosos, como o HPV e o vírus da hepatite B. Mas os tumores em si não são transmitidos de pessoa para pessoa através de contato. E vale dizer que, para as infecções citadas, existem vacinas.

Sexta afirmação que não procede: exames de rastreamento são desnecessários. Claro que não! Exames como mamografia e colonoscopia ajudam a detectar a doença em estágio inicial, quando o tratamento é mais eficaz. Ignorar o rastreamento nos faz perder a oportunidade de descobrir e tratar o problema precocemente e com menos sofrimento.

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Sétimo erro apontado na pesquisa francesa: açúcar causa câncer. O consumo excessivo de açúcar não é recomendável e está relacionado ao maior risco de diversas doenças, como obesidade e diabetes. Mas não há evidências robustas de que favoreça o surgimento de tumores. O que aumenta o risco de diversos tipos de câncer é a obesidade em si. Portanto, faz sentido aderir a uma dieta equilibrada.

Quais as consequências de crenças equivocadas como essas? Elas levam a atrasos no diagnóstico e na procura por tratamento médico adequado. Em última análise, afastam as pessoas dos profissionais, reduzem as chances de cura da doença e aumentam o número de pessoas que sofrem com ela.

É importante desmistificar os equívocos relacionados ao câncer e promover uma conscientização sobre os fatores de risco e as formas de prevenção e detecção precoce da doença. Isso pode ajudar a melhorar os resultados do tratamento, diminuir as taxas de mortalidade e ampliar a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias.

* Angélica Nogueira-Rodrigues é oncologista, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e idealizadora do Movimento Brasil sem Câncer do Colo do Útero; Isabella Tavares é oncologista, especialista em oncogenética e membro da SBOC e do Grupo de Estudos de Tumores Hereditários

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