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Ansiedade climática: os novos sintomas do aquecimento global

Também chamada de ecoansiedade, condição afeta mais intensamente crianças e jovens, alarmados com o futuro do planeta

Por Sidney Klajner*
Atualizado em 17 set 2024, 11h56 - Publicado em 17 set 2024, 11h55
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  • Estudante segura cartaz durante protesto contra mudanças climáticas em Barcelona, na Espanha - 24/05/2019
    Sem futuro? Estudante segura cartaz durante protesto contra mudanças climáticas em Barcelona, na Espanha  (Pau Barrena/AFP)

    As cenas chocantes das enchentes no Sul dão lugar a imagens impressionantes de queimadas em várias regiões do país. O noticiário informa que a seca é a maior dos últimos 44 anos e que, no dia 9 de setembro, a cidade de São Paulo registrou a pior qualidade do ar no mundo.

    O desmatamento na Amazônia, segundo órgãos oficiais, diminuiu, mas o equivalente a 1,1 mil campos de futebol de mata continua desaparecendo a cada dia. E o Pantanal, conforme alerta da ministra do Meio Ambiente, deixará de existir como tal até o final deste século caso sejam mantidas as atuais tendências das condições climáticas.

    Isso para não falar das informações que vêm do exterior: temperatura média global subindo, tsunamis e tufões ceifando vidas e destruindo lugares, geleiras derretendo…

    Dependendo da resposta das nossas emoções a essa realidade devastadora, nossa saúde mental pode ser impactada, levando ao que os especialistas chamam de ecoansiedade ou ansiedade climática. É um medo crônico das tragédias ambientais. Com menos recursos psicológicos e resiliência para lidar com essa realidade, crianças e jovens são os mais afetados.

    Uma pesquisa realizada em 2021 com 10 mil jovens entre 16 e 25 anos de dez países, inclusive do Brasil, mostrou que 59% sentem-se muito ou extremamente preocupados com as mudanças climáticas. Mais da metade reportou sentimentos negativos, como tristeza, ansiedade, depressão, raiva, impotência para agir, desamparo e culpa.

    Na média dos países, 45% dos respondentes disseram que isso impacta sua vida diária (entre os brasileiros o índice é de 50%), afetando os estudos, o sono, a concentração etc. Outro dado: 75% acham o futuro assustador – tão assustador que 39% hesitam em ter filhos.

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    Como explica Dulce Brito, gerente médica de Saúde Mental e Bem-Estar do Einstein, apesar do desconforto e do sofrimento, a ansiedade climática não é uma doença mental, e a maioria das pessoas vai ter sintomas que não exigem tratamento específico. Em parte delas, porém, particularmente crianças e jovens, o estresse leve pode evoluir para transtornos mentais, violência, abuso de substâncias ilícitas e até pensamentos suicidas.

    O assunto será abordado em um painel do qual participarei no SDGs in Brazil (ODSs no Brasil), organizado pelo Pacto Global em Nova York, que terá como tema “Resiliência Climática e Saúde”. A ecoansiedade é mais um desafio que se soma a tantos outros.

    O que fazer?

    Para além da responsabilidade dos governos no desenvolvimento de medidas e políticas públicas ou de cada cidadão no sentido de reduzir sua pegada ambiental, os pais ou responsáveis têm um papel relevante a cumprir. A tendência dos adultos é quase sempre minimizar o sofrimento da criança ou do jovem e considerar exagerados seus temores ou sua visão das ameaças climáticas.

    A recomendação é agir de maneira oposta: ouvir seus argumentos, falar sobre o assunto, respeitar o sentimento. Outra orientação é adotar práticas e comportamentos ambientalmente responsáveis na rotina da casa e da família, como separação do lixo reciclável, economia e preservação de recursos naturais, atenção à origem dos produtos e descarte correto dos mesmos.

    As escolas também devem entrar em cena. As aulas abordando os impactos climáticos devem vir acompanhadas de ações que apontem saídas e ajudem a promover a esperança – nem que sejam coisas simples, como criar grupos de jovens para pensar formas de consumir menos plástico ou ajudar a preservar a água.

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    A Universidade de Washington foi além: criou um curso de luto ecológico que dá aos estudantes ferramentas para lidar com as emoções, como exercícios de respiração e de atenção plena. São recursos que ajudam a enfrentar a solastalgia – termo que define a sensação de luto ou desolação quando vemos, por exemplo, imagens de um lugar devastado pela seca ou por chuvas torrenciais ou quando lemos notícia sobre mais um relatório de respeitados organismos dizendo que o planeta está perto do ponto de não retorno.

    Em estudo publicado na revista Frontiers in Pysicology, especialistas apontam algumas orientações para pais, professores e educadores, provedores de cuidados de saúde mental, sistemas escolares, adultos e pessoas de poder: incluir educação climática apropriada para a idade ao currículo escolar, considerar as emoções dos jovens e promover enfrentamento saudável por meio do empoderamento.

    Em relação a esse último aspecto, podemos enxergar na ecoansiedade um estímulo ao engajamento na causa ambiental. Esse, aliás, é um dos caminhos indicados para lidar com os sintomas emocionais negativos. Fazer parte da solução climática – seja individualmente ou em grupos – traz sentimentos positivos. Além de ter uma função terapêutica contra a ansiedade, conta pontos para resgatar a saúde do nosso planeta.

    * Sidney Klajner é cirurgião, presidente do Einstein e colunista de VEJA SAÚDE

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