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Agrotóxicos comuns podem causar danos à fertilidade masculina

Nova análise, em cima de 25 estudos, comprova ligação entre uso de pesticidas e perda da capacidade reprodutiva. Especialista comenta

Por Rodrigo Rosa*
Atualizado em 9 Maio 2024, 18h42 - Publicado em 8 dez 2023, 08h00

Primeiro, um dado impactante e importante para entender a fertilidade masculina: a concentração de espermatozoides por mililitro de sêmen declinou de 101,2 milhões para 49 milhões no período de 1973 a 2018. É por isso que cientistas têm se dedicado a estudar há algum tempo as causas dessa ameaça que afeta homens no mundo inteiro e já foi chamada de Spermageddon.

A ideia é identificar os verdadeiros inimigos. Sempre indicamos mudanças no estilo de vida para melhorar a saúde reprodutiva de homens e mulheres, mas há ainda muitos casos de pessoas que, mesmo com bons hábitos, enfrentam essa diminuição da contagem de espermatozoides.

Agora, uma revisão substancial de estudos mostra que o declínio prolongado na fertilidade masculina, sob a forma de concentrações cada vez mais baixas de espermatozoides, parece estar ligado ao uso de pesticidas.

Os investigadores compilaram e analisaram os resultados de 25 pesquisas sobre os efeitos de agrotóxicos na fertilidade e descobriram que os homens expostos a certas classes de pesticidas tinham concentrações de espermatozoides significativamente menores. Falamos de agrotóxicos também utilizados no Brasil.

+ LEIA TAMBÉM: Por que a infertilidade não para de declinar pelo mundo?

Segundo o estudo, os defensivos agrícolas pertencentes às classes carbamatos e organofosforados são particularmente prejudiciais à fertilidade masculina. Eles são inseticidas de uso agrícola, doméstico e veterinário. Dentro dessa família de compostos, segundo o Sistema de Informações sobre Agrotóxicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estão registrados 38 ingredientes ativos, entre eles, acefato, bromofós, clorpirifós, diazinona, diclorvós, etoprofós, fenclorfós, fentiona, malationa, metamidofós, parationa metílica, pirimifós e temefós.

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É fundamental que esses dados sejam utilizados como forma de buscar alternativas para evitar o uso massivo desses pesticidas. Espera-se que o estudo chame a atenção dos órgãos reguladores que procuram tomar decisões para manter o público protegido contra impactos inadvertidos e não planejados dessas substâncias.

É possível que esses produtos químicos atuem como desreguladores endócrinos, que imitam os hormônios do corpo e, portanto, enganam nossas células. Além do declínio na contagem, um número crescente de espermatozoides parece nascer defeituoso, de forma que muitos nadam sem rumo em círculos, em vez de nadar furiosamente em busca de um óvulo.

Dado o conjunto de evidências atuais, reforçadas por esse trabalho liderado pela Universidade de Washington, nos EUA, é hora de reduzir proativamente a exposição aos pesticidas, inclusive devido às suas repercussões na saúde reprodutiva.

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* Rodrigo Rosa é médico especialista em reprodução humana, diretor clínico da Mater Prime e do Mater Lab, em São Paulo, além de membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH)

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