“É impressionante como a atual sucessão presidencial é vazia de ideias e rica em culto a personalidades. É uma confirmação de nossa tradição politica histórica. Os holofotes se concentram na trajetória pessoal e características dos personagens que protagonizam a disputa, restando aos partidos e programas um papel secundário e acessório. Isso resulta de uma eterna espera de um salvador da pátria, um super-herói, uma figura mitológica, um “deus” onipotente e onipresente que vai nos redimir de todos os males. Foi assim com [Getulio] Vargas, Jânio [Quadros] e [Fernando] Collor. E, hoje. é revivido em torno das lideranças carismáticas de Lula e Bolsonaro. A alternativa ao populismo seria certamente muito mais trabalhosa (…) Bolsonaro perdeu dois pontos simbólicos que rechearam o conteúdo da sua campanha em 2018: o combate a corrupção, com o afastamento de Sergio Moro, e a agenda liberal de Paulo Guedes, que hoje jaz na poeira das gavetas de arquivos abandonados. Escora-se na pauta conservadora de costumes e no combate aos moinhos de vento do fantasma comunista. Evita discutir a crise econômica e social e alimenta o antipetismo. Lula realça as conquistas do passado, espalha bravatas como a da imagem da crise da Ucrânia resolvida numa mesa de bar, passa longe de qualquer autocrítica sobre a corrupção e a desastrosa condução da política econômica nos governos petistas. Surfa na rejeição ao atual governo. Sobre o futuro, acena com uma agenda regressiva, incluindo a renovação das reformas trabalhista e previdenciária e o fim do teto de gastos. Se o rumo da campanha for este, estaremos em maus lençóis.”
(Marcus Pestana, economista, ex-deputado federal e candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB.)