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Informação e análise
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Um plano terrorista organizado na jurisdição do Exército

Complô armado contra o Estado, com explosões para interditar o aeroporto de Brasília e impedir posse de Lula, foi organizado em área sob jurisdição militar

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 dez 2022, 20h54 - Publicado em 26 dez 2022, 09h00

Brasília tem um bairro militar, onde se encontra o Quartel-General e a maior parte das organizações da hierarquia do Exército. No entorno ajardinado do QG vivem cerca de mil famílias de militares, abrigadas em 800 residências.

A vida no Setor Militar Urbano mudou desde o fim da eleição presidencial, em outubro, quando uma população flutuante de quase duas mil pessoas se instalou diante do Quartel-General, em manifestação organizada e financiada para apelar a uma intervenção armada que impeça a posse do presidente eleito, Lula.

Jair Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão, o ministro da Defesa e comandantes militares atravessaram os últimos 55 dias defendendo, em declarações e notas públicas, o direito de manifestação e a liberdade de expressão dos “patriotas” — é como se autoproclamaram.

O local do acampamento dos bolsonaristas radicais não foi escolhido ao acaso: o bairro do Quartel-General do Exército integra o mapa da jurisdição do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 11ª Região Militar, assim como a sede da presidência, o Palácio do Planalto, e a residência presidencial, o Palácio da Alvorada.

Nessas áreas, a competência ou capacidade para atuação é exclusivamente do Exército. Qualquer iniciativa policial, por exemplo, precisa de combinação prévia.

Um mês antes da eleição a 11ª Região Militar passou ao comando do general de brigada Ricardo de Castro Trovizo. No organograma da caserna ele está subordinado ao comandante militar do Planalto, general de divisão Gustavo Henrique Dutra de Menezes.

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Na noite de Natal, sábado (24), a polícia prendeu e indiciou George Washington Oliveira Sousa, 54 anos, como responsável pela tentativa de explodir um caminhão-tanque de querosene de aviação no aeroporto de Brasília.

No início de novembro ele subiu numa camionete, saiu de Xinguara, no sudoeste do Pará, viajou 1,2 mil quilômetros até Brasília.

Na bagagem trouxe armas, munições e uniformes militares de camuflagem. Alugou um apartamento no entorno do QG do Exército e passou a frequentar o acampamento de bolsonaristas radicais.

Entre a segunda quinzena de novembro e o início de dezembro, ele recebeu de aliados — ainda não se sabe se do Pará ou de Brasília —um conjunto de seis explosivos, do tipo emulsão, que necessitam de acessórios para detonação remota. Têm alguma sofisticação tecnológica e são usados na mineração.

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Na noite de segunda-feira 12, dia em que a Justiça Eleitoral certificou a eleição de Lula e do vice Geraldo Alckmin, um dos radicais saiu da Palácio da Alvorada e voltava para o acampamento diante do QG quando foi preso, por ordem judicial. Um grupo de manifestantes saiu da área do QG, tentou invadir a sede da Polícia Federal, incendiou meia dúzia de ônibus e destruiu propriedades no centro de Brasília.

Dez dias depois, confessou George Washington à polícia, houve uma reunião no acampamento e decidiu-se realizar atentados numa subestação de energia e no aeroporto de Brasília “durante a madrugada”. O plano era iniciar um apagão na cidade interditar toda a área do aeroporto, eventualmente com bombas na áreas internas, de embarque e desembarque.

Não importavam eventuais vítimas. A explosão de um caminhão-tanque de combustível (o explosivo chegou a ser acionado mas “falhou”, segundo versões policiais) tinha o objetivo, segundo a confissão, de provocar caos e levar à “decretação de estado de sítio”. Interditaria a capital, com óbvias consequências sobre a posse do novo governo, cuja lista de convidados tem 43 representantes estrangeiros.

George Washington deixou claro que não estava só. Além da reunião no acampamento diante do Quartel-General, do “investimento” em armas e uniformes (R$ 160 mil), e da cumplicidade nos explosivos, contou à polícia que havia “entrado em contato com um importante general do Exército”. A esse personagem, cujo nome não foi divulgado, teria avisado sobre “um grande derramamento de sangue se nada fosse feito” contra a posse de Lula e Alckmin.

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(./Reprodução)

As investigações prosseguem, agora com George Washington em prisão preventiva. Mais armas e explosivos foram apreendidos no domingo na periferia de Brasília.

O repórter Alceu Castilho, do site De Olho nos Ruralistas, mapeou negócios dele e familiares: figuram como sócios numa complexa rede de empresas controladoras de postos de combustíveis no Pará, Maranhão, Roraima e Tocantins.

Também são donos de transportadoras no mercado do Arco do Desmatamento, onde proliferam a grilagem de terras públicas e os garimpos ilegais financiados por máfias do crime organizado de São Paulo e do Rio.

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George Washington integra um grupo de empresários-ativistas do sul do Pará cujos interesses têm sido defendidos pela bancada do garimpo e do desmatamento na Câmara e no Senado. A maioria desses parlamentares atuou na campanha presidencial. Alguns, se mantém alinhados a Bolsonaro e contribuem na organização de apoio logístico e financeiro aos radicais acampados diante do QG, em Brasília.

George Washington se identificou à polícia como um ex-paraquedista. Justificou-se com a necessidade de “impedir a instauração do comunismo”.

O nome disso é terrorismo, um complô armado contra o Estado organizado dentro de uma área urbana sob jurisdição militar. Para realizar um atentado, ele conseguiu infiltrar armas, munição, uniformes e explosivos na zona supostamente mais protegida de Brasília, a do Quartel-General do Exército.

Numa ironia, o Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 11ª Região Militar mantém emoldurado o seguinte slogan: “Você pode confiar!”

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