Partidos políticos se estruturam para conquistar o poder.
O PSDB é diferente. Aos seis anos de idade, em 1994, chegou ao poder. Vai completar 34 anos, em 25 de junho, ainda sem saber como se organizar.
Isso porque, para alguns tucanos influentes, a desorganização no fragmentado universo partidário virou meio de vida à margem do poder.
A renúncia do ex-governador paulista João Doria à candidatura presidencial, ontem, é produto dessa interessada desordem.
Não há nessa crise qualquer resquício de impasse ideológico.
Todos os envolvidos se moveram — e seguem — motivados por razões pragmáticas, eleitorais e financeiras.
Doria tropeçou no próprio manto. Venceu a dura disputa nas prévias mas acabou isolado dentro do partido.
Candidato de si mesmo, se viu obrigado a renunciar três vezes em apenas 56 dias.
Se despediu do governo de São Paulo na quarta-feira dia 30 de março para se candidatar a presidente.
Na noite seguinte, sob pressão para renunciar à candidatura, anunciou à cúpula do partido que resolvera continuar governador.
Deu errado. Foi obrigado a renunciar ao súbito desejo de continuar no Palácio dos Bandeirantes, e seguir o roteiro previsto da entrega do governo estadual ao vice, Rodrigo Garcia.
Para aliados como Garcia, a candidatura presidencial de Doria passou a representar um fator limitador às negociações de alianças na campanha pela reeleição ao governo de São Paulo.
Para adversários, como o deputado Aécio Neves, o mais influente na bancada do PSDB na Câmara, a candidatura de Doria era um inconveniente na origem, no presente e no horizonte.
Cada cacique tucano tem um plano de vôo diferente para o PSDB. O resultado é uma disputa pelo controle do partido na convenção de julho, se possível, ou depois das eleições, no ano que vem.
Há alguns aspectos comuns nesses projetos. O primeiro é a necessidade de sobrevivência do partido desorganizado num Congresso fragmentado.
Outro é a incerteza coletiva sobre ter candidato próprio na disputa presidencial.
Muitos acham sedutora a perspectiva de “economizar” R$ 60 milhões em gastos de campanha presidencial, investi-los na eleição legislativa e liberar alianças nos Estados.
Por enquanto, poucos demonstram entusiasmo com o desenho de um pacto com o MDB, para figurar na vice-presidência da senadora Simone Tebet.
Consenso, realmente, só existe sobre aquilo que se tornou inexistente: o PSDB não tem um projeto de governo para se apresentar como alternativa nesta temporada eleitoral.
No deserto de ideias, votos são rarefeitos e a escassez transforma o poder em miragem. Resta a desordem.