Oito meses de crise, e ninguém pode garantir que acabou. Esse é o resumo, até agora, do enredo político de Lula com a Petrobras.
Jean Paul Prates foi demitido, e saiu atirando: “Minha missão foi precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira e Rui Costa” — contou o ex-senador do PT em mensagem aos funcionários da empresa.
Regozijo define sensação forte de satisfação. Foi como Prates interpretou o suposto sentimento de prazer e alegria de Silveira, ministro das Minas e Energia, e Costa, chefe da Casa Civil, ao testemunhar sua demissão. Desde outubro do ano passado, eles ajudavam Lula a fritá-lo na cozinha do Palácio do Planalto.
Sua provável substituta na presidência da Petrobras, Magda Chambriard, ex-diretora da Agência Nacional de Petróleo, foi escolhida por Lula em conversas que incluíram a ex-presidente Dilma Rousseff e o antigo presidente da empresa, José Sergio Gabrielli.
A sucessão pode representar, para Lula, Silveira e Costa, uma imediata redução de danos nas relações do governo com a empresa.
O objetivo é o controle do caixa de 20 bilhões de dólares (ou 100 bilhões de reais), cujo manejo é considerado essencial ao planejamento da campanha presidencial de 2026. Como Lula já disse, com ironia, “vai ter algum momento na história do Brasil em que vai ter que ter eleição direta para presidente da Petrobras, e ele indicará o presidente da República, tal é sua capacidade de investimento”.
A crise continua, porque deriva dos impasses da Petrobras. Ela superou o abalo das investigações sobre corrupção em contratos com empreiteiras, que resultaram em condenações de Lula – anuladas – com uma estadia na prisão durante 19 meses. Mas prossegue com indefinições no horizonte.
A Petrobras está embarcada numa corrida contra o tempo. Estima que a partir de 2034, ou seja, em uma década, esgota-se o ciclo de exploração e produção de petróleo na camada conhecida como pré-sal.
O declínio, já iniciado, é um processo considerado inexorável e por volta de 2050 os poços existentes e os ainda em desenvolvimento já não devem produzir mais nada.
Precisa de novas descobertas de petróleo, em quantidade economicamente relevante, para a travessia pós-2030, quando começaria a deixar de ser uma petroleira para se transformar em empresa de energia.
A saída estaria na aposta – tida como certa — na pesquisa e exploração em 16 poços na chamada Margem Equatorial, entre o Rio Grande do Norte e o Amapá.
Significa um movimento de negócios até 2027 de ao menos 3 bilhões de dólares (ou 100 bilhões de reais), para alegria de governadores da Amazônia.
Em paralelo, prevê-se a contratação imediata de 35 navios de apoio ao custo de US$ 2,5 bilhões (ou 12,5 bilhões de reais) para entrega até 2030.
A principal exigência é a de elevado “conteúdo nacional” para beneficiar 15 estaleiros nacionais, a maior parte desativada desde as investigações sobre corrupção, em parceria com empresas estrangeiras.
No governo, a preferência é por acordos com a indústria naval da China, cujo desenvolvimento tem motivado atritos frequentes com os Estados Unidos.