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O pecado de Boric

No embate com Lula, o presidente do Chile mostra racha na esquerda

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h09 - Publicado em 21 jul 2023, 06h00
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  • .Lula e Jair Bolsonaro -
    Gabriel Boric, presidente do Chile, durante visita ao presidente Lula, em Brasília - 30/05/2023 (Ton Molina/Bloomberg/Getty Images)

    Lula, 77 anos, tropeçou no contraponto de Gabriel Boric, 37. Atestou o incômodo ao recorrer à ironia sobre a idade do presidente do Chile, nascido em 1986, quando ele já disputava a sua segunda eleição pelo Partido dos Trabalhadores: “Possivelmente, a falta de costume de participar dessas reuniões (presidenciais) faz com que o jovem (Boric) seja mais sequioso, mais apressado”.

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    Lula, aparentemente, acha um desperdício deixar a juventude nas mãos dos jovens. Evocou a “autoridade” da experiência de quatro décadas e meia de ativismo político para desdenhar do presidente chileno num embate sobre democracia, imperialismo e direitos humanos em ditaduras autoproclamadas democráticas e de esquerda.

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    O pecado de Boric foi contestar a infalibilidade de líderes como Lula e os dogmas da remota era soviética ainda celebrados em frações de partidos como o PT. Semana passada, estavam numa de chefes de Estado da Europa, América Latina e Caribe que terminou em impasse por causa da invasão militar da Rússia na Ucrânia e das violações aos direitos humanos nas ditaduras de Nicolás Maduro, na Venezuela, e de Daniel Ortega, na Nicarágua.

    O chileno cobrou a defesa coletiva de avanços civilizatórios: “Creio que é importante que, desde a América Latina, digamos com clareza: o que acontece na Ucrânia é uma guerra de agressão imperial inaceitável, onde se viola o direito internacional. Hoje é com a Ucrânia, amanhã poderá ser com qualquer um de nós. Disso não duvidemos, apesar da complacência que possamos ter com qualquer líder. O importante é o respeito ao direito internacional. Nesse caso, ele foi claramente violado. Não pelas duas partes, mas pela invasora que é a Rússia”.

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    Como Maduro e Ortega, Lula não esconde a empatia com Vladimir Putin e seu projeto de resgate dos territórios perdidos na dissolução da antiga Rússia czarista e, depois, na liquefação da União Soviética.

    Culpa as potências do Ocidente por colocar seus “cachorros” — a expressão é dele — da aliança militar (Otan) para latir na fronteira do império imaginário de Putin.

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    “No embate com Lula, o presidente do Chile mostra racha na esquerda”

    Não disfarça, também, o desprezo pelo comandante da resistência ucraniana à invasão militar, Volodymyr Zelensky: “Ficam estimulando o cara e ele fica se achando o máximo. Fica se achando o ‘rei da cocada’, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’ ”.

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    A sedução autoritária motiva a divisão na esquerda latino-americana. Em maio, durante uma reunião em Brasília, Lula estendeu tapete vermelho e louvou Maduro com honras de Estado. Relativizou o regime ditatorial, abstraiu uma década de prisões lotadas com opositores, a tortura como sistema de repressão, o desastre social que levou 5 milhões ao êxodo, a partilha dos cofres públicos com gangues e abertura das fronteiras às facções narcogarimpeiras que expandem negócios na Amazônia brasileira. “Narrativa”, classificou Lula. Boric retrucou: “Não é narrativa, é realidade”.

    Para Boric, “a violação dos direitos humanos deve ser condenada sem matizes, independente de quais sejam as vítimas e os algozes”. Ele escreveu recentemente: “Assim como condenamos a violação dos direitos humanos no Chile durante a ditadura, os golpes ‘brancos’ no Brasil, Honduras e Paraguai, a ocupação israelense na Palestina, ou o intervencionismo dos Estados Unidos, devemos, desde a esquerda, com a mesma força condenar a permanente restrição de liberdades em Cuba, a repressão do governo Ortega na Nicarágua, a ditadura na China e o debilitamento das condições básicas da democracia na Venezuela”.

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    Houve uma época em que muita gente acreditava que o socialismo era a única saída para a América Latina. Na paisagem sul-americana de governos autoritários e militarismo exacerbado, parte da oposição armava corações e mentes na defesa da revolução socialista como único caminho possível para o desenvolvimento de países como o Brasil, estacionados na periferia do capitalismo.

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    Com o tempo desmontaram-se seitas e catedrais ideológicas construídas nesse período. Alguns seguem em cultos dogmáticos, empenhados na defesa de ditadores cuja expressão de amizade pode ser aferida de formas múltiplas, entre elas as contribuições de campanha.

    A diferença entre Lula e Boric não é apenas de idade. Eles representam correntes distintas de pensamento sobre o que significa uma esquerda democrática, fundamentada na defesa de avanços civilizatórios. A seu modo, estão no centro de um debate que não é novo, porém relevante sobre uma certa ideia de democracia na América Latina.

    Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

    Publicado em VEJA de 26 de julho de 2023, edição nº 2851

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