O desgoverno na pandemia exumado no relatório da CPI da Pandemia e seus efeitos no agravamento da crise social devem condicionar os movimentos de Jair Bolsonaro na campanha pela reeleição, pelo menos até o fim do verão.
Na presidência dá-se preferência pela organização de eventos públicos — com ou sem palanque — em cidades médias, com até 200 mil habitantes, onde em tese é sempre possível manter plateias sob estrito controle.
É mais por cautela política do que por segurança — a memória do atentado na campanha de 2018 justificou a inflação da guarda pessoal do presidente ao recorde de duas centenas de agentes, sempre apoiados por efetivos das Forças Armadas, da Abin, das polícias federal e estaduais.
Bolsonaro está e deve continuar na defensiva até uma eventual redução nos índices de reprovação ao governo e de rejeição à sua candidatura, em alta constante nas pesquisas desde o início da pandemia.
Líderes governistas preveem reversão na impopularidade a partir do verão, quando, eles supõem, começariam a ser percebidos os efeitos do (ainda incerto) programa de socorro aos eleitores pobres, num ambiente de desaceleração inflacionária.
É uma aposta. Ela tem animado as conversas de integrantes do Partido Progressistas com o presidente e seus parentes. Porém, é vista com ceticismo pelos sócios do PP no Centrão, a cúpula do Partido Liberal.
Não falta muito para se descobrir se é mais uma fantasia palaciana, ou não. É certo que esse cauteloso otimismo com o verão, somente disfarça o fato de governo e aliados admitirem o antibolsonarismo como eixo da campanha de 2022. Ele já limita os movimentos do presidente-candidato.
No curta-metragem de 20 meses de pandemia, pode até parecer coisa óbvia e ululante. No longa-metragem da última década e meia, ou seja, desde a reeleição de Lula na crise do mensalão, é a primeira temporada eleitoral em que o antipetismo aparece em segundo plano. É novidade relevante.