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Informação e análise
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Novos radicais

Está na praça um embrião de terrorismo doméstico

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 jan 2023, 10h33 - Publicado em 20 jan 2023, 06h00

Desde o Natal, em três semanas aconteceu o seguinte: tentaram explodir um caminhão de combustível no Aeroporto de Brasília e sabotaram doze torres de transmissão de energia nos estados de São Paulo, Paraná e Rondônia — quatro foram derrubadas. O explosivo no caminhão foi acionado, mas falhou. O sistema antiapagão na rede elétrica funcionou.

O nome disso é terrorismo, em qualquer idioma. No século passado, o Brasil conheceu duas formas de terror organizado. Uma emergiu dos porões do Estado, nas ditaduras de Getúlio Vargas e dos generais de 1964. Outra floresceu nos subterrâneos da política, entre ativistas que apostavam na luta armada como atalho para a tomada do poder. Nos dois casos pairavam influências externas.

Os fatos das últimas semanas sugerem um embrião de terrorismo doméstico em formato inédito. Até agora, mostra-se desorganizado e restrito a indivíduos, delinquentes primitivos na radicalização em massa, amparados pelo sentimento de impunidade que é impulsionado pela retórica de uma liderança de extrema direita, com base nacional e popular.

A sequência de atentados frustrados no Aeroporto de Brasília e no sistema elétrico nacional ocorreu em ambiente condimentado pela frustração com a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, em outubro.

Nas semanas seguintes, organizaram-se manifestações nas portas do quartéis em mais de uma centena de cidades. Agruparam-se aposentados de classe média, servidores públicos, ambulantes e até moradores de rua seduzidos pela oferta de viagem, acampamento e comida grátis. Seguiram um roteiro padronizado de incitação às Forças Armadas a um golpe de estado.

Por omissões calculadas e conivências oportunistas, autoridades civis e hierarcas de caserna guardaram silêncio eloquente e se esforçaram na proteção aos acantonados nas áreas de jurisdição militar.

Três semanas depois da eleição, ainda em novembro, o governo Bolsonaro estimulou um de seus líderes no Congresso a apresentar (PL nº 2858/22) garantias de anistia ampla, geral e irrestrita aos “manifestantes, caminhoneiros e empresários”.

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“Está na praça um embrião de terrorismo doméstico”

Já na segunda-feira 12 de dezembro, dia da certificação da vitória de Lula, uma turba qualificada como “pacífica e ordeira” deixou o acampamento no Setor Militar Urbano e vandalizou o centro de Brasília, depois de tentar invadir a sede da Polícia Federal. Protestava contra a prisão de um ativista à saída do ritual diário de homenagem a Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

Nos dez dias seguintes aconteceram três movimentos — quase simultâneos, aparentemente sem coordenação — para impelir a radicalização em massa. A meta era presentear Bolsonaro com novo mandato.

Mapa da tragédia que aconteceria no Aeroporto de Brasília
Mapa da tragédia que aconteceria no Aeroporto de Brasília (Reprodução/VEJA)

No Ministério da Justiça foi recebido o rascunho de um decreto presidencial para instituir “estado de defesa” na Justiça Eleitoral. Previa prisão de juízes e designação de uma junta militar para impor outro resultado na eleição presidencial: Bolsonaro derrotado seria declarado vencedor. O papel, evidência coletada pela polícia na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, é tragicômica caricatura dos atos institucionais da ditadura militar. Essa “minuta do golpe” contém uma gama de crimes contra a Constituição, as noções elementares de direito e, sobretudo, ao idioma.

Enquanto isso, o vice-líder do governo na Câmara apresentava um aditivo (PL nº 2954/2022) ao projeto de anistia. Assegurava perdão às empresas “financiadoras” da mobilização bolsonarista.

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Não muito longe do Congresso, numa tenda plantada diante do Quartel-General do Exército, um eletricista de Mato Grosso, um empresário do Pará e um jornalista do Ceará combinavam explodir o Aeroporto de Brasília e uma subestação de energia na madrugada do Natal. Na sequência, previam retornar ao acampamento para distribuir armamento comprado via internet e estocado num apartamento alugado — dinamite, fuzis, pistolas automáticas e munição. Preso, um deles confessou: o caos na capital foi planejado para provocar intervenção e impedir a posse de Lula.

Duas semanas depois, no domingo 8 de janeiro, ocorreu a invasão organizada, coordenada e financiada do Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal. Desde então, contam-se doze torres de energia sabotadas.

Um novo terrorismo doméstico está na praça, incitado pela retórica fundamentalista contra um Brasil liberal, que alguns traduzem como “esquerdista”.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 25 de janeiro de 2023, edição nº 2825

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