Lula chega à metade do governo com os mais pobres sitiados pela inflação
Ano deve fechar com alta de 10% no custo dos alimentos. Impacto é maior no orçamento familiar de baixa renda do que nas contas domésticas dos mais ricos
Lula chega à metade do terceiro governo com os mais pobres sitiados pela inflação.
Há dois anos, eles perdem poder de compra por efeito da alta nos preços de alimentos, água, luz, gás e transporte.
O balanço de 2024 deve fechar com alta de 10% no custo dos alimentos, na projeção para os preços no atacado medidos pela Fundação Getulio Vargas.
No governo, alguns preferem atribuir a culpa a causas específicas, como seca e enchentes. Outros acham mais conveniente dissertar sobre o futuro resgate da bússola governamental na administração das contas públicas.
O fato relevante, no entanto, é imutável: Lula vai completar dois anos de governo com as famílias de baixa renda (até 2.106 reais) ainda mais empobrecidas pelos efeitos corrosivos da inflação.
O Instituto Econômico de Pesquisa Aplicada (Ipea) demonstra que o impacto do aumento dos custos de alimentos e energia é maior no orçamento familiar de baixa renda do que nas contas domésticas dos mais ricos (renda acima de 21.060).
No início de novembro, 86,9% dos brasileiros diziam ter sentido impacto negativo no seu poder de compra, durante este ano, devido ao aumento de preços.
E 78,2% declararam ter enfrentado dificuldades nos últimos doze meses para manter as despesas básicas, com aluguel, alimentação e transporte, segundo pesquisa da MDA/CNT.
Os preços dos alimentos continuam subindo e o dólar já bate o real a 6 por 1. Nas empresas, de maneira geral, projetam-se aumento de preços e da taxa de juros no ano que vem.
O ministro da Fazenda substituiu Lula em discurso na televisão e no rádio, na semana passada. Fernando Haddad anunciou um privilégio à classe média — futuro desconto no Imposto de Renda para quem ganha até 5.000. E apelou: “Tenham fé!”
A ausência de Lula produziu mais ruído e especulações do que a retórica de palanque usada por Haddad.
Quando um governo sente necessidade de apelar para que os governados “tenham fé” é porque sabe que já provocou uma crise de confiança.