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Governo sonhou arrecadar com apostas, agora tem pesadelo no Bolsa Família

É crescente o comprometimento de renda: 3,4 milhões de pessoas que recebem Bolsa Família (17% do total) gastam, em média, cem reais por mês em apostas

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 set 2024, 08h00
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  • O governo passou um ano e meio sonhando com aumento de arrecadação sobre o mercado bilionário de apostas online, e deixou caminho livre à exploração dos negócios. Acordou, agora, com um pesadelo no seu maior programa social, o Bolsa Família.

    É crescente o comprometimento de renda entre os mais pobres, cuja sobrevivência depende da assistência financeira direta do Estado: 3,4 milhões de pessoas que recebem Bolsa Família — ou seja, 17% do total de 20 milhões de beneficiários — já gastam, em média, cem reais por mês em apostas.

    .
    (./VEJA)

    Apenas em agosto, esses jogadores dependentes do auxílio financeiro estatal gastaram três bilhões de reais (cerca de 630 milhões de dólares) em salões virtuais de apostas, as lojas bets.

    Essa informação é do Banco Central e foi obtida a partir do cruzamento de dados dos jogadores sobre suas apostas em dinheiro, feitas em agosto por transferência PIX, com o cadastro da clientela do Bolsa Família.

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    Dias atrás, o Datafolha confirmou que seis em cada dez dos jogadores mais pobres, dependentes do Bolsa Família, declaram gasto de até cinquenta reais por mês com apostas.

    Isso leva a um outro problema para o governo, o de saúde pública. Não existe no Sistema Único de Saúde uma estrutura especializada e preparada para lidar com as consequências dos impactos sociais e familiares da compulsão em jogar, a ludopatia.

    Lula dá a entender que tudo se resolve com regulação. “É um problema que vamos ter que regular, senão daqui a pouco vamos ter cassino funcionando dentro da cozinha de cada casa”, ele disse nesta terça-feira (24/9) em Nova York.

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    Não é bem assim. Os dados levantados pelo Banco Central sobre pagamentos de apostas com PIX indicam que a realidade já é muito mais complexa para ser tratada apenas na regulamentação do comércio de apostas. Vai exigir ação abrangente do governo, até agora despreparado, na contenção de danos.

    Eles são múltiplos. Na economia, bancos detectaram aumento do endividamento e da inadimplência, aparentemente decorrentes da expansão da jogatina. Já se prevê reflexo no custo do crédito ao consumidor, como consequência do aumento da inadimplência nos segmentos de baixa renda.

    Na Saúde, sintomas de emergência transparecem com a disseminação dos fatores de risco e dos impactos vício em jogo nas famílias mais pobres.

    O mercado de bets movimenta cerca de cinco bilhões de reais (novecentos milhões de dólares) por mês, na estimativa do Banco Central. E está apenas começando, sob controle de meia centena de empresas. Outro maior, o de cassinos, está prestes a ser liberado pelo Congresso, com o discreto aval do governo. À margem floresce a agiotagem, outra lucrativa fonte de lucros das máfias.

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