Duelo entre Tarcísio e Lula vai estimular a rodada final em São Paulo
No vácuo do erradio Jair Bolsonaro, governador paulista se tornou a referência principal da oposição ao presidente no maior colégio eleitoral do país
Já começou a segunda rodada eleitoral na cidade de São Paulo.
Logo depois da definição da disputa na noite deste domingo (6/10), o governador paulista Tarcísio de Freitas anunciou que volta às ruas hoje na tentativa de influenciar na reeleição do prefeito Ricardo Nunes, do MDB.
Lula preferiu adiar a decisão sobre quando e como vai se dedicar à campanha do candidato que escolheu, o deputado federal Guilherme Boulos, do Psol.
Faltam vinte dias até à votação, no domingo 27 de outubro. Pode parecer pouco tempo na vida do eleitor, mas equivale a uma eternidade no duelo político entre Tarcísio e Lula que vai estimular a etapa final da eleição paulistana.
Com 21 meses de mandato, o governador do Republicanos se tornou a referência principal da oposição ao presidente do PT no maior colégio eleitoral do país. Teve peso específico na campanha, reconhecido pelo prefeito com uma listagem de adjetivos elogiosos.
Nunes venceu uma disputa acirrada. Teve 29,48% dos 6,1 milhões de votos válidos. Superou Boulos por apenas 25 mil votos.
Tarcísio ganhou relevo no vácuo do erradio Jair Bolsonaro. O ex-presidente perdeu para Lula na cidade, em 2022, mas saiu das urnas sancionado como paradigma da oposição: recebeu 3,1 milhões de votos (46,5% do total) e ajudou a eleger Tarcísio no governo estadual.
A adesão de Bolsonaro à reeleição de Nunes seria consequência, mas seus movimentos erráticos, dosados pela sedução autoritária, multiplicaram sua rejeição na capital paulista nos últimos 21 meses.
Repudiado por quase 60% dos eleitores, tornou-se pesado demais para campanha. Por isso, precisou lutar duramente para indicar o candidato a vice-prefeito, um ex-policial militar que propaga ter perdido a conta de quantas pessoas já matou, supostamente a serviço do Estado.
Inconstante, enxergou nos ardis do candidato Pablo Marçal, do PRTB, uma chance de emparedar Nunes e Tarcísio e impor sua lógica de hegemonia política. Percebeu o erro tardiamente, havia ajudado a criar mais uma “alternativa” em São Paulo.
Não se sabe se foi por consciência ou aconselhamento, mas Bolsonaro preferiu se manter à margem da campanha de Nunes e é possível que continue até o fim. Tarcísio ocupou o espaço e, com autonomia, passou a liderar a oposição a Lula e seu candidato na cidade.
Em 2022, Lula venceu com 3,6 milhões de votos dos paulistanos, equivalentes a 53,5% do total, com uma vantagem de 500 mil votos em relação a Bolsonaro. Pelas pesquisas, sua rejeição na capital hoje supera o índice de aprovação nas urnas de duas primaveras atrás. Foi um dos motivos para sua rarefeita presença na campanha de Boulos, o candidato que ele escolheu atropelando o próprio partido, o PT.
Lula atribuiu um peso decisivo, realçado pelo frágil desempenho do PT no restante do país, ao resultado eleitoral em São Paulo. Agora, tem uma equação para resolver: quando e como vai se dedicar à campanha de Boulos. O risco é parte do jogo, mas uma eventual derrota na capital paulista teria efeitos desastrosos para o seu projeto eleitoral em 2026.