Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por José Casado
Informação e análise
Continua após publicidade

Desilusões

Corrupção e partidos débeis corroem a democracia na América Latina

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 23h01 - Publicado em 4 ago 2023, 06h00

Os brasileiros não apenas reconhecem os avanços das últimas três décadas na vida em democracia, como valorizaram o regime democrático na travessia dos anos Jair Bolsonaro, com seus laivos de autoritarismo na Presidência.

Desde 2020 aumentou em 6 pontos percentuais (de 40% para 46%) o apoio à democracia no Brasil, informa a nova pesquisa da série realizada há 28 anos pelo Latinobarômetro, um centro de estudos independente estabelecido no Chile. Entre janeiro e abril foram entrevistadas 19 205 pessoas em dezessete países latino-americanos. Os resultados permitem uma visão panorâmica, atualizada e comparada, sobre as tendências políticas predominantes em cada sociedade.

Um dos aspectos mais relevantes é o nível de satisfação com a democracia. Não tem a ver diretamente com preferências sobre o regime. Trata-se de um indicador de desempenho, medida de eficiência da elite governante, pelo olhar dos governados.

No Brasil, ampla maioria (66%) mostra-se insatisfeita com a incapacidade de sucessivos governos em avançar na resolução das suas necessidades básicas em saúde, educação e renda. E dois terços (70%) acham que os partidos funcionam mal, não cumprem sua função no sistema político.

Esse mau humor com instituições, governantes e representação partidária não é uma peculiaridade verde-amarela. É coerente com o ambiente de desconfiança mensurável em outras nações da América Latina, onde também se tornou perceptível uma erosão progressiva e sistemática do regime democrático durante a última década. Projetos de autocracias têm florescido sob o personalismo dos líderes que debilitam os partidos, cuja legitimidade está em declínio.

Sobram evidências de um ciclo latino-americano de desilusões democráticas, com algum aumento da indiferença sobre o tipo de regime e até da preferência (de 11% para 13%, no caso brasileiro) pelo autoritarismo.

Continua após a publicidade

“Corrupção e partidos débeis corroem a democracia na América Latina”

Os pesquisadores do Latinobarômetro definem essa temporada de liquefação política como “recessão”, e alinham interpretações sobre a origem a partir da análise da evolução das percepções dos eleitores no acervo de 473 022 entrevistas pessoais acumuladas desde 1990.

A culpa não é da economia, acham. Crises econômicas sempre influem negativamente, porque aumentam as desigualdades, a dimensão da pobreza e ampliam as tensões na sociedade. Porém, não são o fator principal no declínio da democracia nos países latino-­americanos.

Mais relevante, julgam, é a consciência coletiva sobre a deficiência, a incapacidade ou mesmo a incompetência demonstradas pelo Executivo, Legislativo e Judiciário em promover equidade econômica, social e jurídica — com aplicação da lei para todos.

A corrupção, um dos traços da prevalência do personalismo no modo de fazer política, o uso e o abuso do poder têm peso específico nesse processo que resulta numa sabotagem do regime democrático nas sociedades latino-americanas.

Continua após a publicidade

Está-se diante de uma crise da elite governante desses países. E ela deriva em outra, a crise de representação política. Não é casual que 21 presidentes tenham sido condenados por corrupção em nove países, entre a centena de eleitos na região desde os anos 90. São vinte os presidentes que tiveram mandatos interrompidos.

Caso extremo é o do Peru. Teve cinco presidentes a cada onze meses, na média, entre março de 2018 e dezembro de 2022. Todos os ex-­presidentes peruanos vivos, democraticamente eleitos, estão ou estiveram acusados, presos ou sentenciados por corrupção na versão local da Lava-Jato. Eleições corrompidas com dinheiro, “em especial de uma empresa (Odebrecht), mas não exclusivamente” — lembram —, são uma forma de corroer a vontade e a soberania dos eleitores.

Já não resta espaço (“capital”) na sociedade para absorver erros do Executivo, Legislativo e Judiciário no progresso democrático. Nítido indício do esgotamento da paciência dos eleitores está na contundência da crítica aos partidos. No Brasil, por exemplo, 45% acham que a democracia pode funcionar sem partidos. Na Argentina e no Uruguai apenas 34% pensam assim. Vive-se, de fato, um ciclo recessivo na política latino-americana. Mas as recessões, como as desilusões, não são eternas.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2023, edição nº 2853

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.