Presidente do partido Democratas, Antonio Carlos Magalhães Neto escreveu uma nota, ontem, negando a existência de “qualquer tipo de acordo com Bolsonaro para 2022”, intermediado pelo televangelista Silas Malafaia, líder da fração neopentencostal Vitória em Cristo. A ideia, disse, “é lançar candidato à presidência”.
A prioridade de ACM Neto para o próximo ano não é o Palácio do Planalto, mas a disputa contra o PT na Bahia, que há década e meia detém a hegemonia eleitoral no governo estadual, nas bancadas legislativas e em 410 dos 417 municípios que compõem o quarto colégio eleitoral do país. Como dizia seu avô, Antônio Carlos Magalhães, não existe político de influência nacional sem uma sólida base local.
A cena baiana condiciona os movimentos do presidente do DEM na aliança “BolsoNeto”, pois é grande a desvantagem de Bolsonaro nas pesquisas estaduais — com rejeição próxima de 70%.
Na segunda semana de junho, depois de oficializar a expulsão do deputado Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara que se tornou adversário do governo, ACM Neto foi conversar com Malafaia, que atualmente é o ativista radical religioso mais próximo de Bolsonaro. Estava acompanhado do deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), disciplinado aliado de Malafaia.
A conversa deu ritmo ao balé político de ACM Neto com Bolsonaro, em cujo governo já contava com três ministros: Tereza Cristina (Agricultura) e Onyx Lorenzoni (Trabalho), ambos filiados ao DEM, e seu antigo chefe de gabinete na Prefeitura de Salvador, João Roma, a quem havia alojado no Republicanos, controlado pela Universal, de Edir Macedo.
Três dias depois, Malafaia e Sóstenes relataram a Bolsonaro o progresso nos entendimentos com o presidente do DEM, durante viagem ao Pará para celebração dos 110 anos da Assembleia de Deus, conglomerado de igrejas autônomas e de relações rarefeitas, reconhecido como uma das maiores denominações cristã evangélica pentecostal (13 milhões de fiéis, segundo o IBGE).
Sóstenes é um expoente do ativismo neopentecostal na Baixada Fluminense. Ascendeu na política com o auxílio de Malafaia e de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara. Chegou à Câmara em 2015, a bordo de 104 mil votos, pelo PSD de Gilberto Kassab que integrava a base parlamentar do governo Dilma Rousseff. Passou ao DEM no ano seguinte, no governo Michel Temer.
Teólogo, optou pela defesa sem estridência de uma pauta conservadora na Câmara. Ameaçou abandonar o partido em abril, quando ACM Neto anunciou a criação de um núcleo (“Democratas Diversidade”) para promoção dos direitos civis de minorias discriminadas por sexo, religião e cor da pele.
Com os casos de Sóstenes e de Maia, ACM Neto viu-se diante de uma dupla crise no DEM do Rio, que é o terceiro maior colégio eleitoral do país e epicentro do bolsonarismo (na média das pesquisas, seis em cada dez evangélicos fluminenses gostariam de ver Bolsonaro reeleito).
Na semana passada, sem aviso, fez uma intervenção no diretório do DEM no Rio, presidido pelo vereador Cesar Maia, pai do deputado Rodrigo, ex-prefeito da capital e candidato ao governo estadual no próximo ano.
Sóstenes assumiu a presidência e a tesouraria do partido. A comissão executiva foi dividida entre um irmão de Malafaia; o filho do televangelista Romildo Ribeiro Soares, o R.R. Soares da Internacional da Graça de Deus; e, o vice-prefeito licenciado de Nova Iguaçu, Rogério Teixeira Junior, secretário de Transportes do governo Claudio Castro, principal aliado de Bolsonaro no Estado.
ACM Neto avançou no balé eleitoral com Bolsonaro, ampliou o espectro de alianças anti-PT na Bahia e deu uma guinada no rumo do DEM.
O partido de centro-direita, consolidado há 36 anos como reduto de defesa do liberalismo — na origem, chamava-se Partido da Frente Liberal (PFL) —, agora abriga frações radicais do ativismo neopentecostal, que se expandem na esteira do televangelismo da teologia da prosperidade. Elas são afinadas com a militância bolsonarista, como tem mostrado Malafaia nos comícios do presidente-candidato.
Ontem, em entrevista à rádio Brado, de Salvador, Bolsonaro foi em relação a ACM Neto: “Não existe nenhum acordo entre nós (…) Sou político, a gente nunca fecha a porta. Está se afunilando a questão das eleições do ano que vem e, até março, tem que estar tudo mais ou menos acertado”.