É de Jair Bolsonaro a melhor tradução do recado das urnas: “Entendo que há uma vontade de mudar por parte da população.” Então, emendou uma ressalva que antecipa o tom da sua campanha para o segundo turno: “Mas tem certas mudanças que podem vir para pior.”
Bolsonaro teve bons motivos para dormir satisfeito com o próprio desempenho eleitoral na noite de domingo. Teve 51 milhões de votos (43,2% do total). Superou em 1,8 milhão a marca alcançada no primeiro turno de 2018 (49,2 milhões).
Porém, nesta segunda-feira, quem acorda favorito para vencer no segundo turno é o adversário Lula.
Ele venceu Bolsonaro por uma diferença de 6,2 milhões de votos. Recebeu 57,2 milhões (48,43% do total).
É vantagem significativa. Em tamanho, é um terço maior que a votação obtida pela terceira colocada na disputa, Simone Tebet, preferida por 4,9 milhões de eleitores (4,16%).
Lula saiu do primeiro turno com 25,9 milhões de votos a mais do que seu candidato, Fernando Haddad, obteve na primeira rodada do confronto de 2018 contra Bolsonaro.
Esse placar é eloquente até nas dificuldades que ambos enfrentam a partir de hoje.
Mais da metade (3,5 milhões de votos) da vantagem de Lula foi extraída das urnas da Bahia, quarto maior colégio, com 11 milhões de eleitores.
Nessa fortaleza governada pelo PT há década e meia, e onde o partido mantém o favoritismo para o segundo turno estadual, Lula levou um de cada três votos.
Como no restante do Nordeste, o lulismo baiano tem pouco a acrescentar. A grande batalha, ele disse ontem, acontecerá em São Paulo, onde estão 22% dos eleitores.
Entre os paulistas, quem venceu foi Bolsonaro. Levou 12,2 milhões de votos (47,7% no estado). Cravou vantagem de 1,8 milhão sobre Lula. E ainda ajudou seu candidato ao governo estadual, Tarcísio de Freitas, a surpreender o adversário petista Fernando Haddad, indicado como líder na maioria das pesquisas divulgadas até à véspera.
Lula escolheu o Sudeste como alvo prioritário para a campanha do segundo turno. Nos três maiores estados da região (SP, MG e RJ), somou 20 milhões de votos — 2 milhões a menos que Bolsonaro. Só venceu em Minas, com 600 mil.
Decidiu manter o foco em São Paulo para ampliar o volume de votos obtido (10,4 milhões), sugerindo restrição de comícios em áreas fora do Sudeste por falta de tempo.
Bolsonaro, também, terá uma escolha penosa a fazer: tentar ampliar sua votação no Sudeste, especialmente em São Paulo, ou avançar em outras regiões.
Ambos correm contra o calendário. Faltam apenas 27 dias para a votação. É duelo com emoção garantida até o fim.