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Bolsonaro e Lula lutam pelo caixa bilionário da Petrobras

Num aspecto os candidatos parecem concordar: empresários ou trabalhadores, investidores privados são minoritários, e nunca têm razão   

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 mar 2022, 10h18 - Publicado em 29 mar 2022, 08h00
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  • Em qualquer lugar do planeta seria bem-vinda uma empresa que no espaço de doze meses produzisse lucro de R$ 106 bilhões, pagasse R$ 203 bilhões em impostos e se comprometesse a investir outros R$ 192 bilhões nos próximos 48 meses.

    No Brasil, é diferente, como demonstra o caso da Petrobras.

    O governo, acionista majoritário (51% dos votos) e beneficiário a maior fatia (R$ 40 bilhões) dos lucros do ano passado, anunciou ontem a demissão do presidente da companhia.

    Não foi um ato de rotina de administração. Foi a segunda interferência explícita de Jair Bolsonaro na gestão da Petrobras no curto espaço de doze meses.

    A razão: o candidato do Partido Liberal e seus aliados no Congresso querem o controle de preços dos combustíveis, com a conta paga pela Petrobras, mas não parecem ter  coragem de dizer isso em público.

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    Bolsonaro, por exemplo, passou os últimos dias repetindo não possuir “poder para intervir” na empresa. Acreditou quem quis.

    Ontem, antes dele seguir para a sétima internação hospitalar, o governo anunciou Adriano Pires, economista, para suceder Joaquim Silva e Luna, general na reserva, no comando da companhia de petróleo.

    Silva e Luna está sendo demitido mais pelos méritos do que pelos desacertos como gestor. Recusou o controle preços, porém deu um “jeitinho” de lançar no caixa da Petrobras o custo de segurar reajustes dos combustíveis por 160 dias. Foi o seu limite na adesão ao “liberal-bolsonarismo”. Acabou frito a quatro mãos, na parceria Bolsonaro-Centrão.

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    É difícil imaginar seu sucessor detonando a própria biografia numa operação de controle de preços. Pires atuou com voz eficiente na denúncia desse tipo de manobra nos governos do PT de Lula e Dilma Rousseff.

    Ele desenhou uma alternativa politicamente conveniente: um programa emergencial de subsídio para o diesel e o gás de cozinha, pago pelo caixa federal “já que a União se beneficia diretamente dessa política de preço por ser a principal acionista da Petrobras.” Governo e Congresso aparentemente gostaram. Por isso, chamaram Pires.

    A ideia é adequada porque, se não resolve, atenua impactos no bolso do eleitorado insatisfeito até dezembro — depois, é problema de quem se eleger em outubro.

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    Além disso, retira de cena a evidência descaso do governo e da oposição sobre o que, realmente, é relevante para os brasileiros. Há um ano discute-se no Congresso a criação de um fundo de estabilização de preços do petróleo. O debate começou em abril do ano passado, quando o barril custava US$ 60. Ontem ficou acima de US$ 100.

    Bolsonaro pode alegar ter usado o poder do acionista controlador, o Estado brasileiro, para mais uma legítima intervenção na companhia de petróleo. E que seria obra do acaso a harmonia das mudanças com as conveniências do candidato à reeleição.

    Na disputa pelo futuro governo, o adversário Lula deve repetir hoje, em discurso aos empregados da Petrobras, que vai anular a privatização da empresa, lembrando que a crise dos preços dos combustíveis e da escassez de fertilizantes é culpa de Bolsonaro e da “farsa” da Lava Jato, produtos de uma “elite escravista”. Segundo ele, “o escravismo ainda está contido na célula de cada representante da grande elite brasileira”.

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    Acredita quem quiser. Por trás da retórica eleitoral está a disputa pelo controle do Estado, que dá ao governante eleito o poder de intervir no caixa da maior empresa do país, num fluxo de R$ 300 bilhões por ano.

    Lula e Bolsonaro parecem concordar: empresários ou trabalhadores, os sócios-investidores privados são minoritários na Petrobras e, não importa o que pensem, eles nunca têm razão.

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